Monday, September 12, 2011

The Lucky Ones, de Neil Burger (2008)

Longe de mim tentar perceber certas lógicas da indústria cinematográfica norte-americana ou até os gostos do público em si, mas a sério que me custa perceber como é que um filme que no elenco tem Tim Robbins, Rachel McAdams e Michael Peña, todos em papéis muito bons, e ainda pode ostentar o sempre apelativo "do realizador de O Ilusionista", passa completamente despercebido. Algo está muito errado quando se parte do princípio que as audiências só procuram super-heróis e remakes e sequelas em detrimento de uma história sensível e original como esta.

"The Lucky Ones" conta a história de três militares de serviço no Iraque que, por razões diferentes, têm direito a um período de férias em casa. Só que o regresso não é exactamente o esperado para nenhum deles o que acaba por juntá-los numa jornada "on the road" que irá criar laços indeléveis entre eles.

A história em si parece batida, mas não estamos aqui no campo moralista de outras obras. Com personagens muito bem-desenvolvidas e situações que equilibram muito bem o drama com a comédia, Neil Burger constrói aqui um filme sensível, apelativo e não raras vezes engraçado. O que mais assusta, porém, é a realidade subjacente a este retrato da sociedade norte-americana actual.

Os actores são fabulosos na forma como se contêm e como dão largas às mais variadas emoções. Nesse particular, o filme é um deleite constituído por momentos geniais atrás de outros ainda melhores.

"The Lucky Ones" é aparentemente um filmezinho que conta uma história mais ou menos simples e que, por certo, os mais inadvertidos vão encarar como apenas "mais um". Para mim, está aqui muito material oscarizável e, muito mais do que isso, inesquecível. Um filme a ver e rever... e rever.


Sunday, August 28, 2011

Waiting For Forever, de James Keach (2010)

E de onde menos se espera, e quando menos se espera, surge a surpresa. Digamos que, no que a comédias românticas diz respeito, os Estados Unidos já há algum tempo perderam o trono para filmes britânicos como Love Actually, Notting Hill ou as corrosivas aventuras de Bridget Jones.
Por outro lado, nem o realizador - o veterano James Keach - nem o argumentista Steve Adams - que desde o desastre Envy não escrevia para cinema - deixavam antever que este Waiting For Forever fosse algo mais do que uma insossa comédia romântica para fazer chorar madalenas arrependidas. Mas é.

Este filme que vos trago hoje conta a história de um jovem artista de rua, Willie (Tom Sturridge), com uma personalidade muito particular: desde o traumático desaparecimento dos pais enquanto criança vive apaixonado por Emma (Rachel Bilson), a vizinha que já não o é há mais de dez anos. Mas isso não o impede de a ver, de fazer dela parte da sua vida. Por isso, segue-a para onde quer que ela vá, Estados Unidos fora. O problema é que a sua timidez impede-o de declarar-se à sua amada pelo que ela nunca se apercebe sequer que ele está por perto. Aproveitando o regresso de Emma à cidade natal e incentivado pelos amigos de sempre, Willie decide que é a hora de revelar o que sempre desejou.

Waiting For Forever agarra o espectador logo no início. Os seus primeiros 10 minutos são fantásticos, tanto a nível de edição (genial genérico) como toda a cena passada com o casal no carro é de uma graciosidade e energia contagiantes. Quase sem querer, o filme agarra-nos logo ali e mantém-nos interessados até final. Apesar de uma ou outra parte previsível, há vários momentos em que a fita se eleva a patamares muitos altos, fazendo-se também valer de um elenco que se completa com os veteranos Richard Jenkins e Blythe Danner e que está em grandíssima forma. Mas o grande mérito do filme irá para o argumento que evita cair nos clichés habituais a este tipo de filme. Se os personagens em si são cativantes e a premissa é interessante, a combinação de drama com humor é quase sempre equilibrada acabando por dar um tom muito genuíno e natural a uma história que, à partida, nem parece muito plausível.

Um último destaque para Tom Sturridge, encantador a fazer lembrar Johnny Depp em Benny & Joon, no qual este já emulava Buster Keaton. O Willie de Sturridge pode não ser totalmente compreensível pelo comum dos mortais, mas permite ver a vida de uma perspectiva diferente. Só por isso, e se por mais não fosse, este belíssimo filme já valeria a pena.

Thursday, July 21, 2011

Senna, de Asif Kapadia (2010)

Falar de "Senna", o filme, é falar de mais do que um filme. É falar de paixão. Minha. De um povo. Do mundo. Regressar a toda uma época que parece já longínqua, não apenas na memória do mundo motorizado, mas do mundo em geral, leva-nos agora a perceber, com a distância que qualquer análise merece, o fenómeno que foi Ayrton Senna, o homem e o piloto.

Logo desde o princípio deste documentário, o que salta à vista é a quantidade e qualidade de imagens de arquivo nunca antes vistas. Imagens dos bastidores das corridas principalmente, mas também da vida privada e familiar do piloto brasileiro, que nos remetem imediatamente para o domínio do real e não da manipulação, porque são imagens não editadas. Este é o principal trunfo do filme. O facto de não se pretender "santificar" Senna. Até nos épicos - e desleais - confrontos com Prost são-nos mostradas todas as imagens, as reacções no momento. Sem análise ou grandes comentários. Tudo para que possamos tirar as nossas próprias conclusões.

"Senna" acaba por ser um pouco um filme sobre a Vida e não apenas sobre a vida de Ayrton Senna. Leva-nos a reflectir variadíssimas vezes sobre variadíssimos valores humanos e também sobre algumas das facetas mais negras do Homem.

Para os fãs do piloto, aqueles que já leram imensas coisas sobre ele, o filme não trará muito de novo. No entanto, o poder das imagens supera em muito todas as palavras que possam ter sido lidas. E nesse sentido, como referi anteriormente, o filme é um portento.

O calcanhar de Aquiles de "Senna" é o esquecimento, por completo, que faz da relação com Gerhard Berger, companheiro do brasileiro na McLaren e seu melhor amigo no mundo da Fórmula 1. As "partidas" pregadas entre são ainda hoje lendárias nos bastidores da F1 e mereciam algum destaque, até porque Senna não era propriamente das pessoas mais sociáveis.

Ainda assim, é uma obra muito completa e muito interessante que merece ser vista, mesmo por aqueles que, como eu, não se identificam muito com desportos motorizados.