Sunday, October 10, 2010

London, de Hunter Richards (2005)

Ora cá está um filme completamente inesperado. Confesso-vos, peguei neste porque não desgosto do Jason Statham e vê-lo com cabelo foi algo que achei caricato. O filme tresandava a independente e esse facto agradava-me. Ainda assim, parti para o seu visionamento sem grandes expectativas, até porque o resto do elenco, constituído por Jessica Biel e Chris Evans, me deixava de pé atrás. Pois bem, amigos, enganei-me redondamente e hoje considero este filme um pequeno achado, uma daquelas pérolas que nos sentimos muito gratos por ter visto.

A história gira em torno de Syd (Chris Evans), um jovem á beira do desespero depois da namorada, agora ex (Jessica Biel, a London do título) o ter abandonado. Já faz dois meses, mas Syd não consegue esquecê-la, muito pelo contrário. Assim, quando sabe que ela se prepara para trocar os Estados Unidos por Inglaterra, decide aparecer, na sua festa de despedida, mesmo sem ser convidado. Com ele leva Bateman (Jason Statham), um bancário que apenas lhe veio trazer droga.

Este não é um filme para todos, reconheço. A verdade é que passamos mais de hora e meia dentro de uma casa de banho, a ver o discorrer da loucura existencial e amorosa de Syd, numa espiral que parece nada trazer de bom. E ele só quer ter coragem para confrontar London. Por ele vai passando uma galeria interessantíssima de personagens que mais não fazem do que contribuir para a sua decadência.

Desengane-se quem pensa que London é um daqueles filmes hiper-depressivos e super-realistas. Nem o filme o quer ser nem o é efectivamente porque há uma energia inesgotável proveniente destes personagens muito bem construídos e dos diálogos muito bem escritos. É essa energia que nos cativa, que nos toca e nos faz desejar saber como acaba a história. Faz-nos querer torcer por Syd apesar de, através de flashbacks, percebermos que tem uma personalidade dúbia. E é aí que está a magia da coisa. London é um filme que promete ficar na memória.

Saturday, October 02, 2010

E agora, na categoria "ninguém quer ver isto a não ser eu..."


Podem não acreditar, mas o terceiro tomo da saga vampírica LOST BOYS (THE THIRST, neste caso), embora saindo directamente para DVD, está a ter óptima recepção por parte da crítica. Eu ando curioso...



Les Chansons D'amour (As Canções de Amor), de Christophe Honoré (2007)

Este entra directamente para a categoria de "filmes da minha vida". E, neste caso, acontece algo não muito comum que é um mesmo realizador dar-me mais de um "filme da minha vida". Já tinha acontecido há uns anos com o sincero "Dans Paris" de que vos hei-de falar aqui quando o revisionar. Aconteceu agora novamente com esta pérola de nome "Les Chansons D'amour".

Sejamos francos: nenhum destes dois filmes é exactamente um "filme esquecido". Ambos tiveram imensa publicidade na imprensa e mesmo a televisão fez eco deles quando da sua estreia em terras lusas. E ambos são relativamente recentes. Chamei estes filmes a este blog principalmente porque o espectador de cinema médio tem alguma resistência por um certo cinema não feito nos EUA ou não falado em inglês, porque grande parte do público que visita este meu cantinho aqui na web vem do Brasil e não sei até que ponto Christophe Honoré (ou mesmo Louis Garrel) é conhecido no "país irmão", e porque não é-me impossível ver filmes destes e não os divulgar ao mundo. Simplesmente impossível.

De Christophe Honoré já tinha visto, além do referido "Dans Paris", "Má Mère", um retrato de uma relação mãe/filho obsessiva que não me encheu as medidas na altura mas que reverei em breve. "Les Chansons D'amour" é quase uma sequela/remake de "Dans Paris" mas em formato musical. Os mesmos temas - a perda, a impossibilidade do amor - estão lá presentes e são já marca de autor de Honoré. A forma como os aborda, não sendo totalmente diferente, ganha um novo fulgor com a introdução das canções, maravilhoso naipe de melodias que não só ilustra emoções como as faz progredir, bem como ao filme. Não serão eventualmente tão marcantes como as de "Once", mas compõem, sem dúvida, um excelente disquito para se ouvir numa tarde chuvosa. A montanha-russa de sentimentos em que nos envolvem, as músicas e o filme, faz-nos sentir automaticamente identificados com o que ali se passa. Todos já passamos por aquilo, talvez nunca o tenhamos sabido é explicar bem. Nesse sentido, Honoré é brilhante, na forma como despe os seus personagens e os enriquece de vida... e de amor.

Uma nota final para o elenco composto por um grupo de actores todos absolutamente brilhantes, de onde se destaca, com naturalidade, Louis Garrel, o herdeiro do herói romântico da nouvelle vague. Só por ele já valia a pena ver o filme.

TRAILER

Monday, September 27, 2010

Clássicos de Garagem (o regresso!)


Não deixa de ter a sua piada ver um filme como The Expendables (Os Mercenários, em tuga) nas salas de cinema em pleno século XXI. Porque The Expendables não é apenas um filme de acção como tantos outros. É um filme de acção que baseou toda a sua campanha publicitária em redor de um elenco quase todo composto por has beens e wannabes do cinema de acção. Gente que há 20 anos estaria (e esteve mesmo) na berra encabeçando uma das centenas de produções da Cannon ou, com um bocadinho mais de sorte, de uma Carolco. Foram tempos de glória, dizem-me alguns amigos, aqueles que viram pontificar estrelas da arte de bem arrear pancada ou destruir cidades como Sylvester Stallone, Arnold Schwarznegger, Jean-Claude Van Damme, Steven Seagal, Jeff Speakman, Chuck Norris, Michael Dudikoff, Dolph Lundgren, Eric Roberts, Wesley Snipes ou mesmo Bruce Willis nos seus imortais Die Hard. Sim, porque também havia bons filmes entre os clássicos série B de videoclube que alugávamos aos cinco e seis de cada vez, revendo-os até à exaustão.

The Expendables não é um grande filme. Na verdade é um filme mediano que triunfa por apenas querer ser uma homenagem honesta a esses clássicos de videoclube do calibre de Braço Exterminador ou Missão Cobra (o 1 e o 2, já agora). Nem a história tenta ser melhorada, apesar de um excelente monólogo de Mickey Rourke e um bom vilão de Eric Roberts. The Expendables é aquilo que promete, nem mais nem menos, mas com uma ressalva: as cenas de acção são infinitamente melhores do que eram nos anos 80, e Stallone tem a auto-ironia suficiente de se deixar levar uma sova das antigas, daquelas que só ele poderia dar nos filmes de antigamente.

A pergunta que o sucesso que um filme destes (250 milhões de dólares pelo mundo fora falam por si) poderia significar no panorama cinematográfico em si, era a de se não estaríamos perante uma nova moda dos filmes de acção "à antiga". Sinceramente, não sei responder a isso, mas um primeiro indício do que pode estar para acontecer, chegou-me hoje aos olhos, sob o título Havana Heat.

O Tayrona Entertainment Group, que nunca produziu nada de jeito na vida, quer agora fazer-se ao piso e sacar de mais um êxito revivalista. Para isso, nada melhor do que seguir o exemplo do bem-sucedido filme de Stallone e juntar umas quantas estrelas esquecidas. Assim, teremos um Wesley Snipes ainda a contas com problemas relacionados com o fisco, um Michael Dudikoff regressado após um hiato de oito anos, Joey Lawrence e mais uma série de actores especialistas em artes marciais da nova geração. Mas as intenções não ficam por aqui. O chefe da produtora anunciou que enviou recentemente convites a Chuck Norris e a Van Damme para se juntarem à produção e fazerem deste Havana Heat um filme acontecimento no Inverno de 2011. Conseguirão? Aceitam-se apostas, mas o que parece já seguro é que a acção abrutalhada terá mesmo vindo para ficar.


Wind Chill (Arrepio de Morte), de Gregory Jacobs (2007)


Não deve haver género no cinema contemporâneo americano mais prolífico do que o terror. Os mais atentos saberão que, quer nos cinemas, quer no mercado DVD/Blu-Ray, quer por vias menos legais, a quantidade de filmes de terror lançados é tão grande que é até difícil arranjar tempo para vê-los a todos. A verdade é só uma: talvez mais de 90% desses mesmos filmes não merecem que se gaste tempo com eles. Eu diria mais. As fórmulas do cinema de terror americano estão neste momento tão gastas e previsíveis que tudo, ou quase tudo, soa a mais do mesmo.

E é numa altura em que anseio pelo último esforço do M.Night Shyamalan (desta vez apenas como produtor), em "Devil", que me cruzo com esta pérola de que vos venho falar hoje. "Wind Chill" estreou em 2007 nos EUA e no resto do mundo, mas ninguém pareceu dar por isso. Pessoalmente, lembrava-me do cartaz e de ter a presença da Emily Blunt, o que me desperta sempre um pouco a atenção. Mas, de resto, nada. Nem uma luz sobre a história do filme se acendia no mais recôndito canto do meu cérebro.

Apanhei-o uma destas noites no Canal Hollywood, assim por acaso, e fiquei preso ao ecrã logo desde o início, com esta história de dois adolescentes que, tendo de fazer uma viagem de carro juntos, sofrem um acidente, e ficam bloqueados numa estrada secundária, perante temperaturas baixíssimas e... estranhos acontecimentos.

O grande trunfo de "Wind Chill" é que não quer ser mais do que aquilo que realmente pode ser, um exercício de suspense que prende o espectador à cadeira e o assusta aqui e ali. Não pretende reflectir sobre grandes temas ou mesmo sobre a condição humana e as suas atitudes em situações desesperantes. Não. Apenas quer contar uma história, simples quanto baste, povoada pela sugestão e pela emoção. Nós queremos mesmo que aqueles dois seres se safem no final, e, já agora, se não for muito, queremos também perceber o que raio se passa ali afinal.

E o final é compensador o suficiente para que recomendemos o filme aos nossos amigos, isto apesar de não ser uma obra-prima. Ainda assim, é capaz de, apesar de um ou outro defeito, compor uma sessão da meia-noite para não esquecer mais.

Já agora, passa amanhã à noite, de novo, no Canal Hollywood.

Trailer (atenção que revela um pouco demais)

Tuesday, September 07, 2010

The Nines (Os Noves), de John August (2007)

John August é um daqueles nomes que imprime o "selo de qualidade" a qualquer filme. Colaborador recorrente de Tim Burton (foi ele o nome por detrás dos argumentos de Charlie and the Chocolate Factory, Corpse Bride ou Big Fish), assinou também o divertido Charlie's Angels, o desiquilibrado Titan A.E., e o interessantíssimo Go.
Em 2007, aproveitando o bom nome grangeado pelas colaborações com Burton, August decidiu aventurar-se na realização de longas-metragens com este The Nines, um curioso objecto de cinema que importa descobrir.

Três homens, três histórias e três desenlaces diferentes polvilham esta esta espécie de thriller no qual nunca se percebe bem que plano se desenrolam as acções e qual a sua real importância na narrativa. Confuso? Talvez pareça e talvez seja um daqueles filmes que pede mais de um visionamento, mas também é um daqueles que nos revela novos e sumarentos pormenores a cada nova tentativa. E poderá também revelar novas lógicas e novas sensações.

The Nines está magistralmente bem escrito. Mas é um OVNI total no panorama cinematográfico norte-americano actual, e quem o distribuiu deve ter pensado que o nome de Ryan Reynolds só por si chegaria para obter retorno nas bilheteiras. Aqui em Portugal já o vi distribuído, apenas por mais 1 euro, com alguns jornais diários. Correi que este é mesmo bom!

Wednesday, September 01, 2010

The Young Philadelphians (Os Milionários de Filadelfia), de Vincent Sherman (1959)

Mais uma descoberta recente e mais um belo filme a acrescentar à riquíssima carreira de Paul Newman. Tony é um estudante de Direito cheio de sonhos e com a inocência própria de quem ainda não chegou à idade adulta, numa cidade de Filadélfia regida por interesses e aparências. Quando, atraído por promessas de um futuro risonho, aceita adiar o casamento com Joan (Barbara Rush), começa a escalada pela subida na sociedade e o consequente embrenhar nos vícios que antes criticara.

Apesar de ser uma intensíssima crítica social, "The Young Philadelphians" nunca deixa o tom cómico. O equilíbrio entre os dois, juntamente com duas grandes interpretações do casal protagonista, elevam este filme a um patamar superior, talvez não de excelência, mas daqueles que gostamos de ter na nossa colecção e revisitar de vez em quando.

Thursday, August 05, 2010

Houve Uma Vez Dois Verões (2002), de Jorge Furtado

A vocês que me lêem, eu me confesso: não há nada como descobrir pérolas como estas no meio das resmas de filmes que saem cá p'ra fora todos os dias. Quando estamos a vê-los pela primeira vez, no escuro do nosso quarto, quantas vezes no mais silencioso momento da madrugada, é como se nos sentíssemos uns privilegiados por estarmos ali, naquele momento, a saborear aquele filme. Foi o que me aconteceu ontem quando me cruzei com este "Houve Uma Vez Dois Verões".

Já tinha ouvido falar de Jorge Furtado, embora não tivesse ainda visto nada dele. Sabia que, junto com Guel Arraes (de quem vos falarei com certeza em breve), tinha estado na origem de toda uma nova vaga de cinema brasileiro mais preocupado em contar outro tipo de histórias que não apenas as relacionadas com os problemas sociais da sua sociedade. Não que os ignore, mas combatê-los abertamente não faz exactamente parte da sua cruzada.

Este filme que hoje vos aconselho deambula entre a comédia e o drama, sem nunca optar exactamente por um deles, mas sem que isso prejudique a estória em si. Chico (André Arteche) é um adolescente que, numa noite de Verão, é levado a perder a virgindade com Roza (Ana Maria Mainieri), uma jovem que conhece num salão de jogos. Quando esta lhe liga a dizer que está grávida e que quer fazer um aborto, ele sente-se responsável e, apaixonado, oferece-lhe mil reais para ajudar às despesas do aborto. Quando se apercebe que foi ludibriado, parte em busca de Roza para repor a verdade.

Furtado opta por levar o filme de forma aparentemente ligeira, mas sem nunca perder o ponto de vista a que se propôs. O grande trunfo do filme está precisamente aí e no facto de o realizador nunca julgar os seus personagens, arriscando até um final diferente do que seria habitual. Apesar do amadorismo de André Arteche (ou por causa disso), "Houve Uma Vez Dois Verões" transporta consigo uma candura e inocência que já raramente se vê no cinema actual.

Sem ser uma obra-prima, este é, sem dúvida, um filme que merece toda a atenção e apreço.

Trailer

Tuesday, August 03, 2010

Once (No Mesmo Tom), de John Carney (2009)

Falar de Once não é fácil porque se cai no risco da redundância. E muito já foi dito sobre este belo poema em forma de filme. A história parece simples: um artista de rua e uma vendedora de flores encontram-se causalmente e começam a partilhar entre si a paixão que nutrem pela música, até ao momento em que decidem experimentar tocar juntos.
Na sua essência, Once é um filme que redefine gerações e a forma como muitas pessoas se vêem retratadas neste quadro realista, eleva-o a filme de culto. É uma daquelas obras que, mesmo não sendo um sucesso massivo de bilheteira, perdura pela eternidade no coração de quem a vê.
Once é um filme sobre o amor, o concretizado mas sobretudo o falhado. Mas é, acima de tudo, uma ode à concretização dos sonhos mesmo que isso implique correr riscos elevados. E é um hino à superação pessoal, à música e a tudo aquilo que ela acarreta consigo.
Glen Hansard e Marketa Irglova são absolutamente fantásticos e a banda-sonora, da responsabilidade do duo, é dos objectos musicais mais ternos que tive oportunidade de ouvir nos últimos anos.
Um filme que apetece ver sozinho e sentir que é só nosso.

TRAILER

Monday, January 25, 2010

Vers Le Sud (Para o Sul), de Laurent Cantet (2005)



Laurent Cantet, que nos tem trazido interessantíssimos filmes dos quais se destacam o premiadíssimo Entre Les Murs, trouxe-nos, em 2005, este interessantíssimo Vers Le Sud, que é um cativante drama que nos mostra algumas mulheres de meia idade na procura de refúgio e aventura em Port-du-Prince, capital do Haiti, nos anos 70. A paixão de duas delas por Legba, um adolescente local, trará à tona uma série de sentimentos e memórias escondidos por uma sociedade e por determinadas "regras" que com eles não pactuam.


Charlotte Rampling e Karen Young são soberbas e a realização de Cantet ganha muito ao colocar estes personagens na primeira pessoa, conseguindo uma ligação imediata entre espectador e personagem. Fatará, talvez, um pouco mais de erotismo, para que a obra fique, indelevelmente, marcada nas nossas memórias. A lembrar o estilo de Tony Gatlif, por vezes. Clandestino, marginal, absorvente. Um belo filme.

Hot Rod (Rod Radical), de Akiva Schaffer (2008)

Ora aqui está uma divertida comédia que passou completamente ao lado de tudo e de todos (acho que nem sequer teve estreia comercial no nosso país). Rod é um aspirante a duplo que detesta o pai. Agora, ele tem de arranjar 50.000 dólares para salvá-lo e para que este sinta orgulho no filho. P'ra isso, vai ter de saltar de moto sobre 15 autocarros, proeza nunca antes realizada.
Hot Rod vem na senda de um certo tipo de comédia protagonizada por Will Ferrell (um dos produtores do filme), Adam Sandler ou Owen Wilson, e da escola Judd Apatow, realizador ou produtor da maioria destas fitas. Se nem todas triunfam, em Hot Rod as coisas resultam sobretudo devido à simpatia e identificação que sentimos por estas personagens, isto apesar do nonsense de muitas das situações. É verdade que nem sempre acerta mas é, ainda assim, bastante compensador.