Monday, November 02, 2009

Imagining Argentina (Aconteceu na Argentina), de Christopher Hampton (2003)


Há sempre uma certa curiosidade em ver de que são capazes nas artes da realização, mestres de áreas como a interpretação ou a escrita. Se temos bem presente o desastre da adaptação fílmica que Frank Miller fez da própria obra em The Spirit (2008), basta olhar para o meu último post para se perceber que Sean Penn não é apenas um dos melhores actores vivos, mas um exímeo e contundente contador de histórias.

O caso que vos trago desta vez é o de Christopher Hampton, argumentista galardoado com o Oscar por Ligações Perigosas (Stephen Frears, 1988) e nomeado por Expiação (Joe Wright, 2007). O filme, o terceiro como realizador, centra-se nos anos de ditadura na Argentina e retrata o ocorrido na altura com o "desaparecimento" de milhares de contestatários do regime às mãos do mesmo. Carlos Rueda é um encenador teatral cuja mulher, uma jornalista que se prepara para denunciar os crimes do regime (Emma Thompson), é ela própria vítima do mal que denuncia. Rueda descobre então que tem poderes paranormais que lhe permitem descobrir, pelo menos em parte, descobrir os destinos dos desaparecidos e, por sua vez, tentar descobrir o paradeiro da esposa.

O que poderia resvalar para o sentimentalismo excessivo ou para a fantasia mais banal torna-se, nas mãos de Hampton, numa crítica social contundente. O realizador equilibra bem o drama pessoal com a crítica social e ésse é o grande trunfo desta obra que, não estando isenta de alguns pequenos defeitos (como uma certa falta de equilíbrio narrativo), se destaca muito pela ousadia de fazer denúncia sem cair no sentimentalismo excessivo. É um triunfo também de António Banderas numa interpretação contida e com rasgos de génio, uma das suas melhores em muitos anos.

Monday, October 19, 2009

The Pledge (A Promessa), de Sean Penn (2001)

É engraçado, por vezes, perceber-se que não chega ter nomes como Jack Nicholson, Sean Penn, Sam Shepard, Aaron Eckart, Robin Wright Penn, Mickey Rourke, Vanessa Redgrave, Patricia Clarkson ou Harry Dean Stanton para levar um filme a bom porto em termos comerciais. E é engraçado também ver como as pessoas passam por ele nos videoclubes e acabam por passá-lo à frente como se de uma comédia dos irmãos Wayans se tratasse. A verdade é que, no meio de tantos filmes que saem por ano e que tentam atrair a atenção do espectador das mais variadas formas e meios, A Promessa opta por contar uma história de forma calma, intensa, quase sussurante. Nicholson é Jerry Black, um polícia em final de carreira que, perante um crime hediondo, promete a uma mãe encontrar o assassino da filha menor. Mas os demónios de um fim de carreira ao qual ainda não se habituou e da incompreendida obsessão pela promessa feita vão ser ao mesmo tempo umá vantagem e um obstáculo, não só na resolução de um caso como na própria evolução da vida de Jerry.
Sean Penn caminha sobre gelo fino gerindo com habilidade e, sobretudo, com vigor, uma fábula sobre a vida, as suas desilusões e obsessões, entre o drama humano e o thriller psicológico. Jack Nicholson tem um dos grandes papéis da sua carreira e Robin Wright Penn - hoje colada em demasia ao estereotipo da melher sofrida - destaca-se com sensibilidade e garra num personagem difícil.

mas o grande trunfo de A Promessa será o facto de não nos sair da cabeça durante muito tempo após a sua projecção.

O trailer engana muito mas aqui fica: http://www.reelzchannel.com/movie/209860/the-pledge
Este é bem melhor e tem bem mais a ver com o filme: http://www.spout.com/films/The_Pledge/179999/347546/trailers.aspx

Monday, August 31, 2009

Clássicos de Garagem (parte I) - Porky's (1982), de Bob Clark


Toda gente conhece Porky's. Porque todos fomos adolescentes um dia e, nos anos 80, os tabus que envolviam o sexo eram muito maiores do que agora. Quantos de nós não compraram Playboys à socapa naquele quiosque ou espreitaram pela janela mal fechada dos balneários das miúdas no liceu?


Porky's era tudo o que fazíamos e principalmente o que queríamos fazer nessa altura. Foi um sucesso tremendo, também porque os seus personagens, ainda que caricaturas, mostravam as ânsias e os medos de uma geração. Claro que Porky's, e as suas sequelas, nunca quiseram ser mais do que típicas comédias dos anos 80 com maior índole sexual do que o costume. Mas também não lhes era pedido que fossem obras-primas. E para muitos teenagers desse tempo foi, não só uma pedrada no charco, como um deleite inspirador de brincadeiras e um sucesso em reuniões clandestinas na garagem dos amigos. Além disso, acabou por fazer escola que seria revitalizada no final dos anos 90 com a saga American Pie.


Para mim, e para muitos outros, faz falta na colecção em DVD, ainda que as sequelas deixem um pouco a desejar. Hoje é essencialmente uma recordação nostálgica mas também um certo retrato de como as coisas eram há uns anos atrás. Nunca foram bons filmes, mas quem quer realmente saber disso?






Tuesday, August 18, 2009

A propósito de Never Back Down...

O cinema dos anos 80 e daí por diante trouxe-nos um outro mercado de filmes, essencialmente virado para camada mais jovens. A indústria soube dirigir-se a este público de uma outra forma criando histórias cativantes e produzindo novas estrelas em fitas quase sempre de baixo orçamento tornadas clássicos improváveis. Hordas de teenagers reuniram-se em sessões de meia-noite (e não só) para gerar cultos em redor de filmes como Pesadelo em Elm Street, Sexta-Feira 13, Momento da Verdade, Kickboxer e mais recentemente Velocidade Furiosa ou American Pie. Por regra, estes filmes têm como estrelas actores desconhecidos do grande público, histórias simples mas apelativas, uma cena ou actor carismático a dar a cara. Muitos deles tornam-se estrelas da noite para o dia e a maior parte desaparece com a mesma velocidade que os trouxe ao de cima. Há ainda outros que conseguem o estatuto de "astros de videoclube", na maioria das vezes repetindo o mesmo papel até à exaustão. Mas a sua marca na história (muitas vezes chunga, mas o chunga também é cinema e nem sempre mau...) do cinema está deixada, pelo menos para aqueles que vibraram com as suas desventuras.

Never Back Down (Jeff Wadlow, 2008), é talvez o último caso de sucesso a esse nível. A clássica história do miúdo com problemas de adaptação à sociedade (neste caso gerados pelo sentimento de culpa na morte do pai) que se refugia na aprendizagem de artes marciais, não rendeu milhões nas bilheteiras, mas tem feito mossa por esses downloads afora, tornando Sean Faris estrela com carreira promissora da noite para o dia. O moço tem carisma, mas tem também muito para provar. E se nem Ralph Macchio vingou...

Deixo aqui mais alguns nomes de "clássicos de garagem" que fizeram e fazem as delícias de um público, e das suas estrelas e o que é feito delas. É já a seguir...

O Regresso

Depois deste grande hiato, e de alguns pedidos que me chegaram à caixa de email, decidi retomar este canto onde se fala daqueles filmes que ninguém fala. Tenho visto muitos filmes e descoberto algumas pérolas, e não me sentiria bem comigo mesmo se não as partilhasse. Por isso, sejam bem-vindos de volta!