Monday, January 22, 2007

Do-Ma-Baen (Love Phobia), de Kang Ji-eun (2006)

Tinha planeado recomendar um filme completamente diferente desta vez,não ia ser cinema oriental, e muito menos seria outra love-story. No entanto quando eu pensava que já nada me surpreendia dentro do cinema romântico Coreano eis que ontem me apareceu pela frente outro filme verdadeiramente inesperado. Mesmo agora quase 24 horas depois de o ter visto ainda permanece fresco na minha mente, por muitos e variados motivos e irei certamente revê-lo quando acabar de escrever estas linhas.

O filme chama-se "LOVE PHOBIA" e podem ter a certeza que não chegarão ao seu final sem apanharem algumas surpresas.
Para quem não conhece o género, o cinema romântico da Coreia do Sul tem normalmente algumas características que o tornam muito diferente dos habituais enlatados pseudo-românticos made-in-Hollywood. Para começar os trailers do cinema oriental, não têm a tendência de nos explicar como vai ser o filme todo e imaginem só, até nos escondem as surpresas da história e tudo.

Numa história romântica Coreana, nunca há qualquer garantia de que haverá um final feliz, embora isto não se traduza automáticamente numa história deprimente.
Apenas a noção de final feliz, não implica obrigatóriamente que o par da história tenha de ficar junto no fim e depois os personagens vivam felizes para sempre sobe pena de que os espectadores não gostem do filme caso isso não aconteça. Tudo pode acontecer até ao ultimo minuto de projecção, pois uma das características mais interessantes do cinema romântico coreano, é o facto de existirem muitos finais felizes em que inclusivamente acontecem as maiores desgraças aos protagonistas das histórias mas um espectador acaba de ver o filme sentindo-se , reconfortado, positivo, quase sempre identificado com os personagens e principalmente pensando em temas que jamais esperaria encontrar no momento em que se decidiu a espreitar um destes filmes de olhos em bico. E isto, sem que esses temas lhe sejam atirados á cara estilo panfleto humanitário ao contrário do que é habitual no estilo americano.
Em "Love Phobia" o próprio tema só se dá a conhecer quando este se torna essencial para a história e até entrar em cena o espectador não imagina o que lhe vai cair em cima. E mesmo depois dessa parte se começar a desenrolar, as surpresas não ficam por aí pois de repente o espectador conhece respostas para perguntas que até esse momento nem fazia ideia que tinha e isto é uma das coisas mais empolgantes deste filme.

Tudo isto é muito dificil de explicar sem revelar aquilo que é precisamente a força do argumento. Tal como nada é revelado no trailer, também eu não posso sequer comentar muito detalhadamente o que poderão encontrar pois estaria a estragar-lhes o filme todo. Como habitualmente em filmes do género, o final divide opiniões. Há quem entre no espírito e goste e há quem ache que deveria ter ido por outro caminho. Pela minha parte, não me chateia em absoluto qualquer cliché mais emocional quando tem por base uma história como esta.

O resumo possível da história é o seguinte:
Anos atrás duas crianças, um menino e uma menina conhecem-se na escola. A menina assusta todos os colegas da turma quando insiste em dizer que vem de um planeta distante e que carrega uma maldição pois quem lhe tocar pode sofrer os mais variados acidentes e até correr perigo de vida. O que vem a comprovar-se num par de sequências iniciais quando as pessoas á sua volta sofrem os mais variados acidentes.O único que parece imune á maldição é o menino que fica cada dia que passa mais fascinado pela menina. Especialmente quando repara que ela habita num mosteiro á guarda de um misterioso monge.Um dia o menino fica doente e quando volta á escola descobre que a menina nunca mais voltará a sentar-se ao seu lado.

10 anos se passam.
Agora com 18 anos, agora rapaz, recebe um telefonema de uma rapariga que se vem a revelar como a sua antiga amiga subitamente entrando de novo na sua vida. Após o inicio de uma relação, a rapariga volta a referir que vem de um planeta distante encontrando-se na terra apenas á espera que a sua nave a venha buscar no dia em que ela a conseguir contactar, usando a ajuda do seu grupo de amigos astrónomos amadores que obviamente não a levam a sério. Um dia a rapariga volta a desaparecer misteriosamente.
Mais 8 anos se passam e como anteriormente aconteceu, subitamente ela reentra na vida do rapaz aparecendo do nada após ele ter passado anos contratando detectives privados , tentando em vão, encontrá-la.

E isto é o que se pode contar sem estragar este filme que hoje recomendo.
Quem é a rapariga ? De onde vem ? Porque desaparece sempre durante anos a fio sem ninguém a encontrar ? O que tem tudo isto a ver com UFOs ?...Pois, eu sugiro que procurem as respostas em mais este filme que vai passar completamente despercebido em Portugal. Pelo menos até Hollywood fazer o remake disto e dar cabo do espírito original.

O excelente "Love Phobia" tem tudo isto e mais alguma coisa. Embora se calhar á partida nem pareça um daqueles filmes particularmente especiais, pois o estilo de realização é bastante discreto e a uma primeira visão, pode parecer que se limita apenas a ilustrar a história sem grandes rasgos de criatividade. No entanto isto não impede que o filme conte com algumas imagens lindissimas.
Além disso como habitualmente, o filme, apesar de ser um drama na sua essência, conta no entanto com alguns excelentes momentos de humor discretamente inseridos e que ajudam a humanizar ainda mais todos os personagens.

Podem encontrar no Tube, não só o trailer
mas também todo o filme dividido em 12 segmentos de muito baixa qualidade.
Estão por vossa conta, mas eu jamais veria o filme no Tube assim nestas condições.
Façam-me apenas um favor.
Se estiverem interessados em ver isto como deve de ser, não espreitem os inúmeros comentários sobre o filme que poderão encontrar no Tube (ou no imdb), pois contêm inúmeros spoilers e há lá posts que lhes vão destruir por completo todas as surpresas do filme e subsequentemente a sua força. Estão avisados.

No entanto se por este texto, até acham que vão gostar deste filme não hesitem em encomenda-lo na Play-Asia por exemplo
que foi onde eu comprei a minha cópia, (DTS+Extras (videos, making of))

E pronto, por agora é tudo e vamos lá ver se para a próxima recomendo um filme que não seja oriental. ;)

Sunday, January 21, 2007

Saint Ralph, de Michael McGowan (2004)


Saint Ralph não é, definitivamente, o filme que vai mudar a história do cinema. Não é um filme fantástico que virará clássico no futuro. Para dizer a verdade, nem sequer deverá fazer escola no género tear-jerking movies mas é uma alegria de se ver. Ralph Walker (Gordon Pinsent) é um miúdo frequentador de um colégio católico com tendência para se envolver em situações sexualmente incómodas. Quando a mãe entra em coma, Ralph decide que só um milagre a pode salvar pelo que se propõe a correr e tentar vencer a Maratona de Boston no que conta com a ajuda de um dos padres do colégio (Campbell Scott). O filme em si repete ,uitos dos clichés deste género de história, mas onde Michael McGowan acerta é no ambiente da inocente e alegre que acompanha toda a narrativa. Além disso, os desempenhos dos actores principais, nos quais também se inclui uma bondosa enfermeira encarnada por Jennifer Tilly, é acima da média o que nos faz acreditar, ainda que por breve hora e meia de filme, que vale a pena acreditar que podemos de alguma forma fazer a diferença no mundo. É uma alegria...

Saturday, January 13, 2007

Ima, Ai Ni Yukimasu (Be With You), de Nobuhiro Doi (2004)

Quando neste blog me convidaram para colocar aqui algumas contribuições a propósito de filmes esquecidos, apesar da minha disponibilidade nestes dias não ser muita, não resisti em agarrar esta oportunidade de chamar a atenção para algumas obras que continuam desconhecidas em Portugal.

Estando actualmente em moda americanizarem-se filmes orientais destruindo-os por completo na sua alma e essência original á força de serem "adaptados" ás audiências pipoca que devoram marketing em vez de exigirem conteúdo, penso que será interessante eu começar a minha participação neste blog recomendando algum cinema do oriente, que o leitor pode ver antes que lhe apareça pela frente a versão americana disfarçada de ideia original made-in-america.

Não tive grandes dúvidas em escolher o primeiro filme que vou recomendar. Chama-se ["Be With You"] na sua versão japonesa e até há poucos meses atrás, mesmo apesar do filme ja ter um par de anos, era completamente impossível de se encontrar qualquer referência de relevo sobre ele na internet. Ás vezes cheguei a pensar que ninguém a não ser eu tinha visto (e adorado) este pequeno grande filme.Curiosamente, a partir do momento em que apareceu no Imdb a referência de que Hollywood havia comprado os direitos para um remake americano do mesmo, (com Jennifer Garner), surgem agora as primeiras referências ao original espalhadas pela web em alguns textos em inglés.

Por isso, antes que aconteça o mesmo que aconteceu com o fabuloso "Il Mare" que na sua charoposa versão americana ganhou o nome "The Lake House", aconselho vivamente a quem gosta de uma boa história romântica com contornos "sobrenaturais" que procure (compre) este filme que na minha opinião tem suficientes atractivos para prender o espectador ao ecran. E tal como no caso do filme "O Sexto Sentido", obriga o espectador a uma segunda visão para conseguir apreciar plenamente não só a história, mas acima de tudo a poesia da mesma.

["Be With You"], é um pequeno grande exemplo de como se pode fazer um filme romântico comercial inteligente usando os habituais clichés para criar uma história realmente com substância e acima de tudo um grande final.
Apesar de se calhar á primeira vista prometer vir a ser algo tão pastoso como o próximo enlatado com a Julia Roberts, não se deixem desmoralizar no início e posso garantir-vos que o final do filme irá no mínimo provocar não só legítima emoção (pela súbita identificação do espectador quando nos apercebemos da questão central da história), mas principalmente muita discussão sobre o tema que de repente nos é apresentado no segmento final da história onde tudo é revelado.
E além disso é refrescante encontrarmos um filme com imaginação que nem precisa de ser um blockbuster para maravilhar o espectador. Especialmente porque a força do argumento está precisamente naquilo que não nos é mostrado em vez de assentar nas habituais pirotécnias técnicas.

O filme conta a história de uma familia em que a mãe morre, deixando o pai sózinho a tomar conta de um filho com 5 anos.
Ao morrer a mãe promete voltar num dia de chuva dali a alguns meses e eis que meses mais tarde na estação das chuvas, ao passearem num bosque, o pai e a criança encontram uma mulher exactamente igual á falecida esposa e mãe, encontrando-se esta totalmente amnésica.
Fascinados pelas semelhanças entre a rapariga e a falecida, decidem recolhe-la em sua casa ao mesmo tempo que a convencem de que ela é realmente parte da familia e que apenas esteve muito doente internada durante meses num hospital.
Quem será a jovem amnésica e porque tem tantas semelhanças com a rapariga que faleceu ?
Para saberem sugiro que procurem este filme.
Se gostam de bons filmes românticos com um conteúdo inteligente sem ser pretencioso, gostam de finais com uma pitada de mistério e de filmes em que os personagens parecem mesmo seres humanos e não apenas estereótipos, sugiro a compra imediata á confiança deste filme (este foi um daqueles que na altura comprei apenas por instinto sem saber absolutamente nada sobre ele).
Se forem fãs de cinema oriental contemporâneo, penso que pelo menos devem passar os olhos por ele pois não me admirava nada que se surpreendessem.

Gostava apenas de lhes recomendar o trailer oficial que vem no interior do dvd pois é bem mais misterioso do que aquele que lhes vou apontar, mas infelizmente o trailer deste filme é coisa muito rara na internet e como tal só posso indicar-lhes o trailer "mais ocidentalizado" que anda por aí onde muita coisa é logo explicada para consumo mais rápido ocidental.Mas sugiro que o vejam na mesma por vossa conta e risco para terem uma ideia do ambiente do filme. Embora se estiverem a gostar, sugiro também que não vejam o trailer todo e corram a comprar o filme. Só pelo final da história já vale a compra. http://www.tbs.co.jp/movie/english/bewithyou/
Vai proporcionar-lhes muitos motivos para uma boa discussão e posso garantir-vos que se gostam do género, não irão esquecer este filme.

Sugiro a compra desta edição fantástica, barata e com pilhas de extras e coisinhas fofinhas para todos os gostos relacionadas com o filme e sobre o qual não posso revelar absolutamente nada.
http://www.play-asia.com/paOS-13-71-7l-77-1-49-en-15-be+with+you-70-yrn.html
Nesta loja da Play-Asia tenho comprado sempre os meus filmes orientais, nunca tive problemas de alfândega até hoje e tudo chega a nossa casa habitualmente em 8 dias úteis (sugiro o método de expedição mais barato "buble") ;) pois chega perfeitamente.

Tuesday, January 09, 2007

Menino do Rio, de António Calmón (1982)


Este não é, sem dúvida, um filme para todos. Não porque tenha violência ou cenas de sexo em demasia, não porque seja "lavagem", não porque seja daqueles filmes "pesados". Porque Menino do Rio não é nada disso. É apenas um leve surf movie brasileiro que, à partida não passa disso mesmo: um surf movie brasileiro. O problema é que estão tão mal enjorcadinho tecnicamente que irá afastar muita gente do seu visionamento. No entanto, e se estão a pensar fazê-lo, fiquem mais um pouco, não porque o filme seja uma obra-prima, não porque tem momentos geniais, mas porque, neste caso, o facto de ser mal enjorcado não é um defeito, mas sim uma característica própria da época em que o filme foi feito e acaba até por ser uma mais-valia. O filme conta a história de Ricardo Valente (André di Biase), um jovem surfista que se apaixona por uma menina rica (a entretanto prematuramente desaparecida Claudia Magno) mas que, por uma séie de razões, não pode ver a sua paixão concretizada. Pode soar banal, mas a grande vantagem deste filme é toda a construção do ambiente da trama que causará, sem dúvida, nostalgia a muito boa gente. Menino do Rio é, sobretudo, um porta-estandarte de um way of life que entretanto se perdeu, assim como no Big Wednesday, de que vos falei há uns tempos atrás. Muitos acharão "parolo", muitos simplesmente silly, mas eu gostei e recomendo... Mais não seja pela banda-sonora (com clássicos absolutos da MPB) e pela presença da saudosa Claudia Magno. Ah, e sabiam que foi este filme que fez o público brasileiro reconciliar-se com o seu cinema nos anos 80, sendo um triunfo colossal nas bilheteiras??

Cidade Baixa, de Sergio Machado (2005)


O passado mês de Dezembro levou-me à descoberta do cinema brasileiro, do qual andava, talvez um pouco por preconceito, alheado. Pois bem, esta experiência tem-me trazido gratas surpresas, a começar pela descoberta daquela que estou convicto ser uma das mais interessantes cinemtoagrafias mundiais. Nos próximos tempos dar-vos-ei a conhecer alguns dos títulos que me passaram (graças a Deus, né? ) pelas mãos. Aquele que trago hoje ao vosso conhecimento aluguei-o recentemente e chama-se Cidade Baixa. Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura) são amigos de longa data e possuem um barco que utilizam para transportar mercadorias. Um dia conhecem Karinna (Alice Braga), uma stripper a quem oferecem boleia para Salvador. O progressivo envolvimento dos dois com ela trará óbvias consequências na amizade dos dois... mas não só. Cidade Baixa é um daqueles filmes que prende por todas e mais alguma razão. A história é simples mas bem contada. Os actores são do melhor que há: Alice Braga seduz completamente o espectador e já está em Hollywood a trabalhar com Will Smith; Wagner Moura é uma revelação; mas é Lázaro Ramos, um dos melhores actores brasileiros da actualidade que ganha a cena deambulando com um personagem possuído por uma inquietante acalmia que desconforta. Nada é linear netse filme discretamente realizador por Sérgio Machado. E ninguém vai conseguir ficar indiferente...

Winter Passing (Estranhos em Casa), de Adam Rapp (2005)


Os videoclubes ainda são fonte de descoberta de títulos bastante interessantes para este cinéfilo que vos fala. A minha última descoberta foi o recém-lançado Winter Passing (tradução: Estranho em Casa :)), um pequeno e sensível filme independente, cujo elenco mais parece o de uma super-produção: Will Ferrell, Ed Harris e Zooey Deschanel. No entanto, nem os nomes parecem ter evitado uma triste carreira comercial de uma muito interessante obra. Reese (Zooey Deschanel) é jovem e vive em Nova York. Mas não é feliz, talvez devido a um passado que teima em atormentá-la e que, por isso, decide enfrentar, regressando à "terrinha" onde todos os problemas estão camuflados, desde a morte da mãe escritora ao futuro incerto de um pai (Ed Harris) que se deixou levar por mágoas e incertezas e que caminha agora para a auto-destruição. Adam Rapp conduz a história com sensibilidade, mas não trata os seus personagens com condescendência. Prefere, isso sim, dar-lhes a dimensão humana suficiente para que consigamos identificar-nos com elas e entender as suas atitudes e sentimentos. Um must see a ser descoberto!