Tuesday, December 17, 2013

MARATONA DE NATAL (Parte VII) - Fred Claus, de David Dobkin (2007)



Não há muitos filmes de Natal que fujam à lógica da mensagem familiar final, através da qual é ensinada uma lição de vida e se proporciona uma sensação de bem-estar imediata, enfim, algo próprio para aquecer corações por alturas da consoada. Não arriscaria dizer que Fred Claus é o filme que rompe com a fórmula, mas é, sem dúvida, uma lufada de ar fresco no por vezes sem saborão panorama de filmes natalícios.

Vince Vaughn faz de Fred, o sempre menosprezado irmão mais velho do Pai Natal (Paul Giamatti) que optou por uma vida errante, apesar do bom coração. Quando pede ajuda ao irmão para um negócio pendente, Nicolau exige-lhe, em troca, que ele passe alguns dias no Pólo Norte, ajudando no processo de distribuição das prendas de Natal. 

No início, Fred Claus parece "apenas" uma sucessão de gags feitos à medida para permitir a Vaughn brilhar eclipsando, inclusive e surpreendentemente Rachel Weisz, apagada no papel da namorada do protagonista. Quando chega ao Pólo Norte, porém, o filme ganha uma nova vida. Todo o ambiente na fábrica dos presentes é cheio de detalhes e personagens divertidos ainda que nem sempre bem desenvolvidos. John Michael Higgins e o seu Willie mereciam um filme só dele. Kevin Spacey faz um vilão muito competentemente. Mas é o golpe de teatro da resolução da trama que eleva verdadeiramente o filme a um patamar superior. Sente-se que o argumento de Dan Fogelman (baseado numa história sua e de Jessie Nelson) precisava de ser um pouco mais polido para resultar em pleno, mas a sensação final é de que, apesar de um pouco desequilibrado, Fred Claus é um triunfo e um dos melhores filmes de Natal dos últimos anos.

Curiosidade: Frank Stallone, Roger Clinton e Stephen Baldwin fazer uma perninha num dos momentos mais deliciosos do filme. 

Recomendado para: todos aqueles que tenham estômago para o estilo de Vaughn.

Classificação Filmes Esquecidos: ****
Classificação imdb: 5,5
Comentário chunga: Lex Luthor a vestir a capa do Homem de Aço? God save us!

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MARATONA DE NATAL (Parte VI) - Jack Frost, de Troy Miller (1998)




Há filmes que prometem muito antes do lançamento e até chegam a cumprir durante grande parte da sua duração, mas nos quais depois se nota o invariável dedinho do executivo do estúdio produtor que, seguindo os estudos de mercado, interfere de forma indelével no resultado final. Este Jack Frost de que vos falo é um desses casos. 

Jack é um músico cuja banda parece estar perto da consagração, o que o leva a descuidar a família. Quando morre num acidente de viação, reaparece na pele de um boneco de neve construído pelo filhos, para compensar o tempo perdido. A premissa, entre o insólito e o previsivelmente familiar, tem potencial. E a primeira meia hora, enérgica e divertida - muito devido à bonança de Michael Keaton - parece indicar um equilibrado drama familiar com fantasia, ideal para a quadra natalícia. Joseph Cross (como o filho de Jack), inclusive, revela ser um bom ator, com a graça suficiente para levar o papel a bom porto.

Ora é precisamente quando o filme mais promete, que começa a desiludir: no ponto em que Jack se transforma em boneco de neve. A partir daí, a previsibilidade toma conta do filme e este nunca mais recupera, apesar do visível esforço dos intervenientes. Fica por apurar se o fracasso da empreitada se deveu a um guião fraco, à falta de arte do televisivo realizador Troy Miller ou aos omnipresentes e engravatados executivos. 

Fica um mais ou menos razoável filme de sábado à tarde que não fica especialmente na memória.

Recomendado para: ter como alternativa ao "Somos Portugal", da TVI. 

Curiosidade: Sam Raimi (Homem-Aranha) chegou a estar envolvido no projeto, tendo mesmo chegado a escrever um rascunho do guião com o irmão Ivan Raimi.

Classificação Filmes Esquecidos: **
Classificação imdb: 5,0
Comentário chunga: quanto tempo será preciso para se reconhecer a voz de um pai ou de um marido?

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Sunday, December 15, 2013

MARATONA DE NATAL (Parte V) - Frosty Returns, de Evert Brown & Bill Melendez (1992)



Dois dos rostos da casa Charlie Brown realizaram esta curta animação literalmente concebida para crianças, baseada no celebro conto de Jim Lewis. Frosty Returns traz-nos uma menina que, depois de ajudar o Boneco de Neve (voz de John Goodman) a combater uma ameaça de extinção da neve, encontra nele o amigo que lhe faltava.

A história é simples e é contada sem grandes rodeios, de forma a que as crianças a absorvam facilmente. No entanto, e apesar da energia dos personagens principais, não há um elemento surpresa que traga o fascínio esperado, mesmo tendo em conta que os números musicais são bons e não demasiado longos.

No final, fica a sensação de que Frostry Returns é a animação ideal para ver na cama, na manhã do dia 25, acompanhado de uma chávena de leite e antes de uma qualquer boa versão do imortal conto de Dickens.

Recomendado para: crianças, e apenas elas.

Classificação Filmes Esquecidos: **1/2
Classificação imdb: 4,9
Comentário chunga: um spray para remover a neve?

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Wednesday, December 11, 2013

MARATONA DE NATAL (Parte IV) - Blizzard (Uma Noite Mágica), LeVar Burton (2003)



Eu queria dizer coisas muitas giras deste Blizzard, mas acho que o que de melhor me sai neste momento é que não é ofensivo para as crianças nem as trata como imbecis. E é tudo, parece-me assim à primeira vista.

A primeira fraqueza do filme revela-se logo nos primeiros dez minutos. A mistura de histórias constantes tira-lhe o foco e não ajuda a que empatizemos com personagens e situações. Depois vem uma rena falante e pensante e começamos a pensar se estava toda a gente sóbria quando resolveu levar esta história ao cinema. Como se isso não bastasse, os efeitos especiais pré-Movie Maker são involuntariamente cómicos e tentamos esquecer tudo isso escondendo-nos nas interpretações convincentes Jan Tríska, Christopher Plummer, Kevin Pollak e, principalmente Brenda Blethyn, ou no tom declaradamente ingénuo de um filme feito especialmente para crianças mesmo muito crianças. 


Essencialmente, Blizzard ganha por não se levar muito a série e por exibir uma certa candura e inocência não muito comuns nos ultra-sofisticados filmes de hoje. Mas é tão ingénuo que por vezes dá pena. 


Recomendado para: crianças dos anos 80 e inícios de 90. E só para elas.


Curiosidade: o elfo vigilante que Blizzard ilude para levar os skates para Katie é o realizador do filme, LeVar Burton.

Classificação Filmes Esquecidos: **1/2
Classificação imdb: 5,3
Comentário chunga: o que dizer de um filme cujo trailer nem consigo encontrar?


Paul Walker: estrela ou ator?



O recente e prematuro desaparecimento de Paul Walker chocou Hollywood e o mundo e não houve quem não se pronunciasse sobre as qualidades pessoais e profissionais que o ator evidenciou em vida. Não deixa de ser um pouco irónico que hoje, um ator que foi muitas vezes enxovalhado pelos críticos, veja agora enaltecidos méritos a todos os níveis. Porém, tudo isto levanta uma questão que sempre pairou sobre Paul Walker e ainda hoje paira sobre muitos atores: seria Walker um ator ou uma carinha bonita promovida a estrela de ação em sagas como Fast and Furious?

Uma análise rápida à carreira mostra um crescimento gradual, de secundário em fitas para adolescentes normalmente bem sucedidos até um primeiro êxito em The Skulls (A Sociedade Secreta, de Rob Cohen, 2000). Logo em seguida, o grande sucesso The Fast and the Furious (Velocidade Furiosa, de Rob Cohen, 2001) leva-o ao estrelato, mas não convence a crítica apesar da adoração do público. Quando a sequela desapontou os dois, pensou-se que a saga teria uma morte prematura e que Walker seria provavelmente esquecido, mas o californiano foi-se mantendo à tona graças a êxitos inesperados como Joy Ride (Não Brinques Com Estranhos, John Dahl, 2001), Running Scared (Medo de Morte, Wayne Kramer, 2006) e Eight Below (Antártida, da Sobrevivência ao Resgate, Frank Marshall, 2006) nos quais apresentou qualidades interpretativas assinaláveis. Pelo meio somou alguns fracassos estrondosos dos quais o injustamente esquecido Timeline (Resgate no Tempo, Richard Donner, 2003) foi o nome mais sonante. De resto, quando a saga Fast and Furious regressou pôde voltar a projetos menos comerciais e que conseguiam projetar as suas qualidades. Vehicle 19, já deste ano, é disso mesmo grande exemplo e ainda hei-de falar nele aqui no estaminé.

Ficou por provar se Walker, por si só, conseguiria suportar uma grande aposta comercial. Se teria arcaboiço para aguentar o desafio. Na verdade isso agora pouco importa. Fiquemos com os bons momentos de uma carreira nem sempre regular, nem sempre com interpretações de destaque, mas ainda assim muito meritória.

Thursday, December 05, 2013

MARATONA DE NATAL (Parte III) - Noel (Um Milagre de Natal), Chazz Palminteri (2004)



Há filmes que, por muitas estrelas que tenham no elenco, dificilmente atingem um grande público.As razões para isso podem ser da mais variada índole e não importa, neste espaço, meditar profundamente obre isso. Um Milagre de Natal tem Susan Sarandon, Penelope Cruz, Paul Walker, Robin Williams e Alan Arkin, todos em grande forma, mas nem assim se livrou de uma carreira praticamente inexistente nas salas de cinema. O que leva a algumas questões: valerá a pena o visionamento? Será assim tão mau um filme que nem o elenco estrelar conseguiu fazer sobressair?

A resposta mais imediata é sim, Um Milagre de Natal vale a pena. Essencialmente é um filme honesto, que tenta cruzar histórias tendo a noite de Natal como pano de fundo. A realização do também ator Chazz Palminteri é sóbria, mas deixa sobre os ombros dos atores toda a responsabilidade pelo sucesso da empreitada. No entanto, isso sente-se e, se as histórias em si são bem concebidas e escritas e os atores se mostram comprometidos com o projeto, fica a sensação clara de que poder-se-ia ter ido muito mais longe. O exemplo mais cabal é o do personagem de Robin Williams que fica muito aquém do evidente potencial.

Um Milagre de Natal não é um filme essencial, nem sequer para a época festiva. É uma obra correta e escorreita que peca por não ser mais ambiciosa, mas que, por outro lado, é capaz de, aqui e ali, tocar os mais desprevenidos.

Recomendado para: ver na noite de Natal, antes do jantar, para aquecer o povo em lume brando.

Curiosidade: o DVD do filme foi lançado apenas 48 horas depois da estreia do filme!

Classificação Filmes Esquecidos: ***
Classificação imdb: 6,2
Comentário chunga: mas por que é que a Susan Sarandon não se atirou à água e abanou o filme de vez?

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Wednesday, December 04, 2013

MARATONA DE NATAL (Parte II) - Polar Express (O Expresso Polar), Robert Zemeckis (2004)



Muitos realizadores há cuja obra me apaixona, por um ou vários motivos. Gente que vai desde o mais óbvio - Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, Christopher Nolan - ao para muitos inimaginável - Richard Linklater, Luc Besson, Gore Verbinsky. No entanto, se tivesse de escolher um de entre todos como o MEU PREFERIDO de sempre, esse alguém teria de ser Robert Zemeckis. O motivo é simples: há tanta variedade e qualidade na sua filmografia que poderia facilmente gastar uma semana só a ver filmes seus que sei que nunca me desiludiria. Além disso, é dos poucos realizadores capazes de passar do entretenimento mais escapista ao filme com mensagem sem vacilar sequer por um momento. Poderia até referir a magia e criatividade da saga Regresso ao Futuro (Back to the Future I, II e III, 1985, 1989 e 1990), mas seria injusto esquecer tantas e tão boas obras, algumas das quais já falei aqui ao longo dos anos.

Quando o homem se decidiu enveredar pelo cinema de animação não me opus, considerando que a experiência Quem Tramou Roger Rabbit? (Who Framed Roger Rabbit?, 1988) tinha corrido excepcionalmente bem. Não esperava eu é que Zemeckis começasse por um conto de Natal de raiz clássica. Polar Express conta a história de um menino que está a passar pelo sempre traumático momento da constatação de que o Pai Natal não existe. Uma noite, um misterioso comboio pára junto à sua casa e anuncia o Polo Norte como destino final. A viagem que se segue é puro deleite visual, uma daquelas experiências plenas de ilusão que fazem automaticamente valer o bilhete de cinema. A narrativa em si é simples e dirigida essencialmente a um público mais infantil. Para esses, este poderá ser o filme que marca uma infância. Para os outros, será o recordar nostálgico de um tempo que foi e não volta.

E Zemeckis acertou outra vez. E eu continuo a gostar muito dele.

Recomendado para: Crianças em dúvida e adultos com a criança bem viva dentro de si.

Curiosidade: O nome do menino que é personagem principal do filme nunca é mencionado.

Classificação Filmes Esquecidos: ****
Classificação imdb: 6,5
Comentário chunga: Caminhar em cima de um comboio cheio de neve e à noite. Pois sim...

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MARATONA DE NATAL (Parte I) - It Happened on Fifth Avenue (Aconteceu na 5ª Avenida), Roy Del Ruth (1947)



E começamos a nossa maratona de Natal com uma obra perdida no tempo, apesar do reconhecimento obtido na época de estreia. Aconteceu na 5ª Avenida poderia facilmente ter sido realizado por Frank Capra, pois absorve todos os seus ideais de bondade e partilha para contar a sua história. Um sem abrigo (Victor Moore) habituou-se a ocupar, todos os invernos, a casa de um milionário (Charles Ruggles), cuidando dela e ali vivendo como se a mansão fosse sua. Até que um dia, o acaso e a generosidade levam a que acabe a partilhar o seu refúgio com mais algumas pessoas em dificuldades... e com a desavinda filha do próprio milionário. 

A história vai por aí fora no que se poderia facilmente tornar um filme desconexo e sem grande sentido, mas o desenrolar bem engendrado juntamente a diálogos e personagens deliciosos - o argumento de Herbert Clyde Lewis e Frederick Stephani foi nomeado para o Oscar - tornam Aconteceu na 5ª Avenida num daqueles pedaços de cinema ideiais para ver com a família na época natalícia. Um filme que aquece o coração.

Recomendado para: ver junto à lareira.

Curiosidade: A história foi adquirida pela Liberty Films de Frank Capra antes de finalmente parar nas mãos de Roy Del Ruth.

Classificação Filmes Esquecidos: ****
Classificação imdb: 7,4
Comentário chunga: A sério que este gajo agora recomeda filmes a preto e branco??


Monday, December 02, 2013

Maratona de Natal!


Com o Natal a chegar, reparo que esta época do ano tem vindo a perder protagonismo nos meios de comunicação ligados ao cinema. Por um lado, na televisão aposta-se essencialmente em grandes estreias e blockbusters, por outro, nas revista, desapareceram os especiais dedicados ao cinema natalício. Sendo assim e assim sendo, o Filmes Esquecidos decidiu colmatar a falha e, a partir de hoje e até ao dia 25, dedicará o seu espaço a obras mais ou menos conhecidas e mais ou menos esquecidas, todas sob a égide do Natal. Juntem-se a nós nesta viagem que promete surpresas e descobertas.

Saturday, November 30, 2013

Clássicos Quase Esquecidos (parte I): The Shawshank Redemption (Os Condenados de Shawshank), de Frank Darabont (1994)



É bom perceber que em Hollywood há excepções à regra. É bom perceber que se fazem filmes que, por um motivo ou por outro, apesar de esquecidos num primeiro momento, ganham nova vida posteriormente. Em adolescente descobri Os Condenados de Shawshank por sugestão de uma amiga da minha irmã e soou-me logo a filme de artes marciais de terceira linha. Só após muita insistência decidi pegar naquele filme que, vim a saber depois, tinha ficado na sombra de Forrest Gump na corrida pela estatueta dourada. Tinha sido nomeado para sete. Não ganhou nenhum.

O filme conquistou-me logo à primeira. A serena história de um banqueiro condenado injustamente pelo homicídio da esposa e do seu amante prende pela simplicidade e profundidade como trata temas como a amizade, a compaixão e o companheirismo. Os seus personagens, mesmo os mais secundários, acresentam sempre alguma coisa à narrativa e são frequentes as vezes em que se destacam dos outros por mérito próprio.

É difícil vermos Os Condenados de Shawshank e imaginarmos que é proveniente de uma obra do Stephen King, esse mesmo, o mestre do terror. A sensibilidade que transpira da história e do argumento de Frank Darabont - curiosamente não nomeado pela Academia - é tal que por vezes causa arrepios na espinha. Tudo o que lá está é visceral e incomoda e emociona pelo realismo.

A empreitada, sem nomes sonantes no cartaz, resultou num rotundo fiasco de bilheteira. No entanto, o evento do VHS permitiu a redescoberta de uma obra que hoje se considera essencial e que dificilmente não aparece em qualquer lista dos melhores filmes de cinema da História.

Revi-o ontem, pela 22ª vez, se não me falham os cálculos, e é preciso dizer que não perdeu nem um pingo da frescura que ostentou no seu ano de estreia. Tornou-se obrigatório para qualquer amante da 7ª arte.

Classificação Filmes Esquecidos: *****
Classificação imdb: 9,3
Comentário chunga: é o filme com maior cotação de sempre no imdb. Em alguma coisa haveriam de acertar por aquelas bandas...

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Thursday, November 28, 2013

Sliding Doors (Instantes Decisivos), de Peter Howitt (1998)



Há filmes cujo visionamento adiamos vezes sem conta. Umas vezes por umas razões, outras vezes por outras lá vão sendo adiados uma e outra vez, muitas vezes apesar de até nos chamarem a atenção. Sliding Doors é, que me recorde, o filme que sempre fui colocando na lista dos seguintes. Quando estreou no cinema, nos idos de 1998, quase o fui ver por duas vezes. Depois fui adiando a compra do DVD apesar de até ter aparecido como oferta em jornais. Passou na televisão, mas nunca estava em casa para vê-lo, apesar de o ter gravado em VHS. Até que há três dias, sem que nada o fizesse prever, passei por ele numa loja de artigos em segunda mão e disse a mim mesmo: "Desta não passa!". E assim foi. Veio comigo.

Gwyneth Paltrow é Helen, uma jovem que, de um momento para o outro se vê sem o bom emprego que lhe permitia o seus sustento e o do namorado escritor. Em seguida, encontra o namorado com outra na cama. Ou será que afinal perdeu o metro e não viu nada? O filme navega entre os "what ifs" da vida, mostrando-nos os diferentes efeitos que um momento, uma opção diferente, podem ter no desenrolar da nossa vida. Uma espécie de Regresso ao Futuro (Back to the Future, Robert Zemeckis, 1985) em versão comédia romântica "sim ou sopas", conduzida com leveza e charme por Peter Howitt. O grande trunfo de Sliding Doors provém do seu equilíbrio que parece natural, mas que tão difícil é de conseguir e tão facilmente poderia resvalar para o lugar-comum. As situações são apresentadas com credibilidade, e temperadas com o génio cómico de John Hannah, um muito improvável par romântico que espalha energia e vitalidade num filme que facilmente se poderia levar demasiado a sério.

Sliding Doors é um filme que se vê com agrado porque aquece a alma sem precisar de ser parvo. Não há assim tantos como este.

Recomendado para: Uma noite a dois, acompanhada por um bom vinho (apesar de eu o ter visto sozinho, com um copo de água ao lado).

Curiosidade: Quando Sidney Pollack telefonou a oferecer financiamento para o filme, o realizador Peter Howitt estava numa espiral de alcoól num pub de Londres e teve de esperar pelo dia seguinte, até ficar sóbrio, para poder falar com Pollack.

Classificação Filmes Esquecidos: ****
Classificação imdb: 6,7
Comentário chunga: quem acha que o John Hannah é feio é porque nunca viu o gajo que faz de namorado da Gwyneth Paltrow no filme. Lá se foram os leading men classicos. Boa!

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Wednesday, November 27, 2013

Onde é que já vi esta cara? (Parte I)

O cinema é um daqueles espetáculos que facilmente promove um desconhecido ao estatuto de estrela. Rapidamente, e com a devida sorte e trabalho, aparecem os Roberts Pattinson ou Russells Crowe da vida. Seja por que motivo for, habituámo-nos a vê-los no grande ecrã e os seus nomes chamam imediatamente a nossa atenção. No entanto, para lá das Julias Roberts da vida, gente há que reconhecemos ao longe, mas cujos nomes ou filmes não ficam tão facilmente na memória. A quem nunca aconteceu o clássico: "é pá, este gajo tinha um papel bem fixe no Silverado. Como é que ele se chama mesmo?". Geralmente, são atores que se celebrizam e dão destaque a papéis secundários, raramente chegando ao protagonismo absoluto. A partir de agora, o "Filmes Esquecidos" vai prestar homenagem a esses heróis do celuloide. E começamos com...



Para mim, Bruce McGill há-de ser sempre o imortal Daniel "D-Day" Simpson, o mais marado dos integrantes da Delta Tau Chi Fraternity, em A República dos Cucos (Animal House, John Landis, 1978). Já aqui era personagem secundário, mas o histrionismo e a loucura que conferiu ao seu "boneco" fizeram-no destacar-se facilmente do resto do elenco. A este propósito, aconselho a compra da edição DVD de 25º aniversário do do filme, cujos extras são imperdíveis.

Mas McGill não se ficou por aí e apareceu, ao longo dos anos, em obras como Pela Noite Dentro (Into the Night, 1985), Os Três Fugitivos (Three Fugitives, Francis Veber, 1989), A Fúria do Último Escuteiro (The Last Boy Scout, Tony Scott, 1991), O Meu Primo Vinny (Cousin Vinny, Jonathan Lynn, 1992), Assalto Infernal (Cliffhanger, Renny Harlin, 1993), Um Mundo Perfeito (A Perfect World, Clint Eastwood, 1993), Patrulha do Tempo (Timecop, Peter Hyams, 1994), Coragem Debaixo de Fogo (Courage Under Fire, Edward Zwick, 1996), O Informador (The Insider, Michael Mann, 1999), A Lenda de Bagger Vance (The Legend of Bagger Vance, Robert Redford, 2000), Ali (Michael Mann, 2001), The Sum of All Fears (A Soma de Todos os Medos, Phil Alden Robinson, 2001), Amigos do Alheio (Matchstick Men, Ridley Scott, 2003), O Júri (Ruanaway Jury, Gary Fleder, 2003), Colateral (Michael Mann, 2004), Cinderella Man (Ron Howard, 2005), Elizabethtown (Cameron Crowe, 2005), Ponto de Mira (Vantage Point, Pete Travis, 2008), W. (Oliver Stone, 2008) ou Lincoln (Steven Spielberg, 2012).

Trabalhou com a nata dos realizadores consagrados de Hollywood, mas foi na série McGyver (1986-1992), que eternizou Richard Dean Anderson, que acabou por ter mais reconhecimento popular, através do engraçado e truculento Jack Dalton.

Curiosamente, McGill nunca foi nomeado para os Oscars, prova cabal de que nem todos os atores recebem o reconhecimento que merecem.


Thursday, May 23, 2013

The Bang Bang Club, de Steven Silver (2011)



"The Bang Bang Club" é a história real de quatro foto-jornalistas na África do Sul do Apartheid e todos os confrontos emocionais e implicações pessoais que o conflito tem neles. É baseado num livro de dois dos quatro foto-jornalistas.

O filme assume como personagem principal o personagem de Greg Marinovich (Ryan Phillippe) o que é uma opção questionável já que, por exemplo, o personagem a cargo de Taylor Kitsch, Kevin Carter, acaba por ser mais interessante. No entanto, penso que acaba por ser uma opção acertada, pois tanto o personagem de Phillipe acaba por ter várias camadas como, por não ser tão complexo emocionalmente, dá um certo equilíbrio à narrativa. Por outro lado, sendo o livro baseado nas suas próprias memórias dessa altura, parece-me sempre mais seguro versar mais sobre o que se sabe com exatidão.

Há vários pontos fortes no filme, mas o principal parece-me ser a óbvia química e desenvoltura entre os quatro atores protagonistas, que passa com naturalidade para o ecrã. Por outro lado, o tema da ética parece-me nunca ser levado ao extremo, o que não vejo exatamente como um defeito já que há cenas marcantes o suficiente para nos levar a pensar - a cena em que um pai que acaba de perder o filho se confessa a Marinovich (e respectiva sequência) é de arrepiar e levanta várias questões que não são exatamente fáceis de responder.

Gosto da forma como a realização se esconde por detrás dos atores e dos acontecimentos, dando-lhes espaço de manobra e valorizando o argumento e o lado humano do filme. Não é alheia a este fato, a experiência prévia de Steven Silver no documentário.

Há apenas dois "senãos" no filme, a meu ver: os personagens da Robin e do João Silva estão ou mal desenvolvidos - no caso dela, pedia-se uma mulher de fibra, afinal é uma editora de um dos mais importantes jornais em plena África do Sul do Apartheid - ou sub-desenvolvidas - no caso dele, João Silva nunca passa de um "boneco" presencial. 

No restante, um pedacinho de história muito bem enjorcado que provoca imediata vontade de ler o livro (que até está baratinho no ebay!).


Monday, March 04, 2013

Nothing But the Truth (A Verdade e Só a Verdade), de Rod Lurie (2008)


Este filme deve ser visto primeiramente por aqueles que acham que de Hollywood já nada vem de novo, de excitante, que mereça efetivo destaque. Para aqueles que preguiçosamente insistem no cliché de que em terras do Tio Sam, quando se fala de cinema, só os dólares contam. Na verdade, este Nothing But the Truth é um objeto tão singular no panorama cinematográfico atual que até a mim surpreendeu. Pela ousadia. Pela mestria como nos leva a encantados (indignados?) até ao seu glorioso final.

Rod Lurie tem-se especializado num tipo de cinema com uma certa carga política, do qual The Contender (O Jogo do Poder, 2000), The Last Castle (O Último Castelo, 2001) e Straw Dogs (o remake do Cães de Palha, de Peckinpah) são exemplos efetivos. Lurie não tinha conseguido, no entanto, contar as suas histórias sem que um travo de moralismo patriótico as impedisse de atingir a visceralidade a que os temas propostos almejavam, acabando por vezes por se tornarem, a princípio, obras excitantes, mas terminando como objetos amorfos.

Em Nothing But The Truth - história de uma jornalista (Kate Beckinsale) que se recusa a divulgar a fonte de uma das suas histórias, para desgosto do governo que a passa a perseguir - era fácil cair nas armadilhas lamechas a que o tema normalmente está adjacente. A identificação com a personagem de Beckinsale, a mulher de princípios bem definidos, é imediata, mas o argumentista/realizador não cede e confronta constantemente os dois lados da barricada, com personagens que acreditam realmente naquilo que estão a dizer e fazendo, por vezes, com que o espectador não se sinta totalmente seguro no partido que toma, assim como o próprio advogado da jornalista (avassalador Alan Alda). É aí que reside o maior trunfo de um filme que corre alguns riscos, evita ele mesmo tomar partidos definitivos, e arrisca num final tão arrasador quanto coerente.

Não será um filme para todos, e poderá até gerar animadas discussões. No final, entende-se os motivos e as reservas que o levaram a ter uma distribuição bastante limitada, apesar do elenco estrelar (estão lá também Matt Dillon e Vera Farmiga). Justiça lhe seja feita: só o fato de Hollywood o ter produzido já é um grande triunfo.


Monday, January 07, 2013

10 Years, de Jamie Linden (2011)


E de vez em quando lá aparecem aqueles filmes que não podemos obrigatoriamente dizer que são bons ou maus, essencialmente porque dependem quase exclusivamente do grau de empatia que os personagens e/ou situações conseguem estabelecer com o espectador. "10 Years" é um desses casos.

História da reunião de um grupo de amigos a propósito da celebração do 10º aniversário após o final do liceu, "10 Years" perde um terço do filme a apresentar os seus personagens - e são muitos - mas nunca se torna chato, apesar dos estereótipos. As situações em que os personagens se envolvem são plausíveis e nunca se sente que foram ali colocadas a martelo ou que caem no ridículo. E as pequenas histórias de cada um dos personagens, umas mais interessantes do que as outras, ganham força natural, também graças ao imenso talento de um elenco em pleno estado de graça. Channing Tatum, o ator mais bem sucedido de 2012, destaca-se com um misto de vulnerabilidade e simpatia que enternece, mas destacá-lo quando há aqui tão boas atuações seria injusto.

E depois há os momentos, uma sucessão de momentos marcantes e decisivos, não apenas no caminho que os personagens têm de percorrer, mas na definição de certas dificuldades de crescimento, da passagem da adolescência à idade adulta. Momentos que não querem ser marcantes, mas que o são na sua sinceridade e otimismo. Já nos cruzamos com esta viagem noutros filmes, porventura até mais decisivos do que este - e nem sequer se pode dizer que "10 Years" tenha um enredo linear, ou mesmo um enredo de todo - mas, com todos os seus defeitos, consegue cativar todo aquele que foi estudante e, como qualquer outro, deixou assuntos pendentes.