Falar de "Senna", o filme, é falar de mais do que um filme. É falar de paixão. Minha. De um povo. Do mundo. Regressar a toda uma época que parece já longínqua, não apenas na memória do mundo motorizado, mas do mundo em geral, leva-nos agora a perceber, com a distância que qualquer análise merece, o fenómeno que foi Ayrton Senna, o homem e o piloto.
Logo desde o princípio deste documentário, o que salta à vista é a quantidade e qualidade de imagens de arquivo nunca antes vistas. Imagens dos bastidores das corridas principalmente, mas também da vida privada e familiar do piloto brasileiro, que nos remetem imediatamente para o domínio do real e não da manipulação, porque são imagens não editadas. Este é o principal trunfo do filme. O facto de não se pretender "santificar" Senna. Até nos épicos - e desleais - confrontos com Prost são-nos mostradas todas as imagens, as reacções no momento. Sem análise ou grandes comentários. Tudo para que possamos tirar as nossas próprias conclusões.
"Senna" acaba por ser um pouco um filme sobre a Vida e não apenas sobre a vida de Ayrton Senna. Leva-nos a reflectir variadíssimas vezes sobre variadíssimos valores humanos e também sobre algumas das facetas mais negras do Homem.
Para os fãs do piloto, aqueles que já leram imensas coisas sobre ele, o filme não trará muito de novo. No entanto, o poder das imagens supera em muito todas as palavras que possam ter sido lidas. E nesse sentido, como referi anteriormente, o filme é um portento.
O calcanhar de Aquiles de "Senna" é o esquecimento, por completo, que faz da relação com Gerhard Berger, companheiro do brasileiro na McLaren e seu melhor amigo no mundo da Fórmula 1. As "partidas" pregadas entre são ainda hoje lendárias nos bastidores da F1 e mereciam algum destaque, até porque Senna não era propriamente das pessoas mais sociáveis.
Ainda assim, é uma obra muito completa e muito interessante que merece ser vista, mesmo por aqueles que, como eu, não se identificam muito com desportos motorizados.