Este filme deve ser visto primeiramente por aqueles que acham que de Hollywood já nada vem de novo, de excitante, que mereça efetivo destaque. Para aqueles que preguiçosamente insistem no cliché de que em terras do Tio Sam, quando se fala de cinema, só os dólares contam. Na verdade, este Nothing But the Truth é um objeto tão singular no panorama cinematográfico atual que até a mim surpreendeu. Pela ousadia. Pela mestria como nos leva a encantados (indignados?) até ao seu glorioso final.
Rod Lurie tem-se especializado num tipo de cinema com uma certa carga política, do qual The Contender (O Jogo do Poder, 2000), The Last Castle (O Último Castelo, 2001) e Straw Dogs (o remake do Cães de Palha, de Peckinpah) são exemplos efetivos. Lurie não tinha conseguido, no entanto, contar as suas histórias sem que um travo de moralismo patriótico as impedisse de atingir a visceralidade a que os temas propostos almejavam, acabando por vezes por se tornarem, a princípio, obras excitantes, mas terminando como objetos amorfos.
Em Nothing But The Truth - história de uma jornalista (Kate Beckinsale) que se recusa a divulgar a fonte de uma das suas histórias, para desgosto do governo que a passa a perseguir - era fácil cair nas armadilhas lamechas a que o tema normalmente está adjacente. A identificação com a personagem de Beckinsale, a mulher de princípios bem definidos, é imediata, mas o argumentista/realizador não cede e confronta constantemente os dois lados da barricada, com personagens que acreditam realmente naquilo que estão a dizer e fazendo, por vezes, com que o espectador não se sinta totalmente seguro no partido que toma, assim como o próprio advogado da jornalista (avassalador Alan Alda). É aí que reside o maior trunfo de um filme que corre alguns riscos, evita ele mesmo tomar partidos definitivos, e arrisca num final tão arrasador quanto coerente.
Não será um filme para todos, e poderá até gerar animadas discussões. No final, entende-se os motivos e as reservas que o levaram a ter uma distribuição bastante limitada, apesar do elenco estrelar (estão lá também Matt Dillon e Vera Farmiga). Justiça lhe seja feita: só o fato de Hollywood o ter produzido já é um grande triunfo.
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