Friday, December 30, 2016

Duelo Imortal (Highlander), de Russell Mulcahy (1986)



Muito se tem falado, ao longo dos últimos anos, num possível remake da saga Highlander, estreada em 1986 e que já deu origem a cinco filmes, uma bem-sucedida série de televisão, sem esquecer as adaptações feitas em animação. Os fãs, claro, estão na sua maioria contra o refazer de uma obra que consideram única e, por si só, impossível de repetir.

Fui então rever este clássico da década de 80 para vos dizer de minha justiça como sobreviveu o Highlander original (Duelo Imortal, de Russell Mulcahy) ao passar dos anos.

A história é a de Connor MacLeod, um escocês das montanhas que descobre, com a ajuda de um mentor, ser imortal num mundo onde apenas pode haver um.

E nada melhor do que começar esta minha análise precisamente pelo começo, ou seja, pela música dos Queen. Poucas vezes se viu uma banda sonora de um filme – ainda por cima de um blockbuster – composta exclusivamente por músicas de uma única banda, uma super-banda na altura. Foi o que aconteceu neste filme e a verdade é que, ainda que uma vez por outra a música pareça descontextualizada, na maior parte das vezes tem o condão de atribuir ao filme uma atmosfera muito particular carregada de misticismo e eco. Arriscar-me-ia a dizer que hoje é difícil imaginar este filme sem a música dos Queen, tanto se confunde esta com o universo que retratam as imagens.

No entanto, é a música dos Queen o primeiro sinal de que se trata de um filme pertencente à década de 80. Esta identificação imediata, que é transversal a quase todos os elementos do filme - desde o cenário aos efeitos especiais, passando pela escolha do actor principal e, sobretudo pela escolha do vilão – acaba por condicionar a sobrevivência do mesmo à passagem do tempo.

Se há algo que acerta na mouche em Highlander é a escolha de Russell Mulcahy para a cadeira da realização. Proveniente do mundo dos videoclips, este australiano soube equilibrar com bom gosto e muito dinamismo os elementos próprios da época com uma aura de misticismo e epopeia que definiu um género para os anos vindouros. O apuro estético e a noção de grandiloquência que Mulcahy trouxe dos telediscos acabou por jogar muito em seu favor e em favor do próprio filme.

O próprio Christopher Lambert, herói de acção vetado ao esquecimento com o passar dos anos, cai como uma luva no papel de um herói que não o é naturalmente, mas a quem as marcas do tempo vão dando sabedoria e uma vulnerabilidade invulgares. Aliás, é neste ponto que o argumento do filme apenas roça a superfície o que acaba por deixar um sabor a pouco.

Duelo Imortal acaba por funcionar muito bem como épico de aventuras, uma óptima sessão de sábado à tarde, mas sente-se que a temática da imortalidade e da solidão que essa mesma imortalidade acarreta poderia ter sido explorada de forma bastante mais profunda e incisiva. Nesse sentido, a série a que deu origem (e em que todos ficámos viciados nas tardes dos anos 90 da SIC) é a que melhor presta serviço à mitologia e à essência da saga. Muito mais até do que as sequelas deste Duelo Imortal, qual delas a pior.

Regressando à questão inicial, Highlander é aquela saga – mais do que o filme em si - que clama por um remake bem estruturado e mais profundo. Como filme em si, este início de saga não está nada mau. Mas e que tal um Gore Verbinski pegar nisto?

Recomendado para: saudosos do bom cinema de aventuras

Classificação Filmes Esquecidos: ***1/2
Classificação imdb: 7,0


Comentário chunga: Clancy Brown assusta o próprio susto. Mas o filme merecia um vilão melhor.

EDIT: e afinal, já há notícias sobre o remake :) http://movieweb.com/highlander-movie-reboot-director-chad-stahelski/


Saturday, December 17, 2016

Toca o Tambor Devagar (Bang the Drum Slowly), de John D. Hancock (1973)



Há filmes dos quais não reza a história e dos quais nunca mais se ouviu falar desde que passaram no cinema. As causas para tal podem ser imensas e este Toca o Tambor Devagar (Bang the Drum Slowly, John D. Hancock, 1973) – que até é o filme preferido de gente do calibre de Al Pacino – não conseguiu ficar na memória das massas por muito tempo. Ainda assim, ou apesar disso, é um belo drama que hoje trago perante vós.

Baseado no livro homónimo de Mark Harris, o filme conta a história de um tecnicamente mediano e não muito inteligente jogador de basebol a quem é diagnosticada uma doença em estado terminal (Robert de Niro), e do mais inteligente e evoluído colega (Michael Moriartry) que de tudo faz para o proteger.

O filme começa bem, adquirindo um ritmo lento que alguns podem tornar chato, mas que se adequa ao registo do argumento e às interpretações dos personagens a quem é permitido crescer e respirar, não se notando, em momento nenhum, um forçar de nota para fazer evoluir a história. Os personagens em si são desenvolvidos tridimensionalmente, e o que talvez o espectador mais jovem estranhe é a quase estranha camaradagem de Moriartry para com De Niro, que resulta numa amizade sem necessidade de pedir nada em troca, valor talvez escasso num mundo actual cada vez mais individualista.

Contudo, é por aí que esta obra começa a triunfar. Valores como a amizade, a honra, o espírito de equipa, o respeito são desenvolvidos de forma despojada e que nos deixa quase sem fôlego durante vários momentos do filme, e ainda mais quando os créditos finais começam a rolar.

Toca o Tambor Devagar talvez não seja o filme mais fácil para o cinéfilo de hoje. Mais do que isso, para o mundo de hoje. Mas talvez seja um digno exemplo de como o cinema americano da década de 70 conseguia conciliar entretenimento com mensagem de forma tão sublime.

Recomendado para: o homem que ainda o é.

Classificação Filmes Esquecidos: ****
Classificação imdb: 7,0

Comentário chunga: o Tegwar devia ser famoso!

Trailer



Friday, December 09, 2016

O Regresso dos Filmes Esquecidos



Diz a sabedoria popular que amor de juventude fica para sempre e é bem capaz de ter razão. Quando comecei este blog, nos idos de 2005, dificilmente esperaria, mais de 10 anos depois, estar hoje a retomá-lo, após diversas paragens. 

Muita coisa mudou no mundo da sétima arte desde que aqui comecei a escrever. Hoje, já vemos filmes em telemóveis, se assim o desejarmos. Mas a busca pelo apaixonada por mais um filme, aquele que esperamos deixe uma nova marca em nós, essa continua e eu cá estou para vos ajudar nela.

Porque, no final de contas, isto também é a magia do cinema.