Muito se tem falado, ao longo dos
últimos anos, num possível remake da saga Highlander,
estreada em 1986 e que já deu origem a cinco filmes, uma bem-sucedida série de
televisão, sem esquecer as adaptações feitas em animação. Os fãs, claro, estão
na sua maioria contra o refazer de uma obra que consideram única e, por si só,
impossível de repetir.
Fui então rever este clássico da
década de 80 para vos dizer de minha justiça como sobreviveu o Highlander
original (Duelo Imortal, de Russell Mulcahy) ao passar dos anos.
A história é a de Connor MacLeod,
um escocês das montanhas que descobre, com a ajuda de um mentor, ser imortal
num mundo onde apenas pode haver um.
E nada melhor do que começar esta
minha análise precisamente pelo começo, ou seja, pela música dos Queen. Poucas
vezes se viu uma banda sonora de um filme – ainda por cima de um blockbuster –
composta exclusivamente por músicas de uma única banda, uma super-banda na
altura. Foi o que aconteceu neste filme e a verdade é que, ainda que uma vez
por outra a música pareça descontextualizada, na maior parte das vezes tem o
condão de atribuir ao filme uma atmosfera muito particular carregada de
misticismo e eco. Arriscar-me-ia a dizer que hoje é difícil imaginar este filme
sem a música dos Queen, tanto se confunde esta com o universo que retratam as
imagens.
No entanto, é a música dos Queen
o primeiro sinal de que se trata de um filme pertencente à década de 80. Esta identificação
imediata, que é transversal a quase todos os elementos do filme - desde o
cenário aos efeitos especiais, passando pela escolha do actor principal e,
sobretudo pela escolha do vilão – acaba por condicionar a sobrevivência do
mesmo à passagem do tempo.
Se há algo que acerta na mouche
em Highlander é a escolha de Russell Mulcahy para a cadeira da realização.
Proveniente do mundo dos videoclips, este australiano soube equilibrar com bom
gosto e muito dinamismo os elementos próprios da época com uma aura de
misticismo e epopeia que definiu um género para os anos vindouros. O apuro
estético e a noção de grandiloquência que Mulcahy trouxe dos telediscos acabou
por jogar muito em seu favor e em favor do próprio filme.
O próprio Christopher Lambert,
herói de acção vetado ao esquecimento com o passar dos anos, cai como uma luva
no papel de um herói que não o é naturalmente, mas a quem as marcas do tempo
vão dando sabedoria e uma vulnerabilidade invulgares. Aliás, é neste ponto que
o argumento do filme apenas roça a superfície o que acaba por deixar um sabor a
pouco.
Duelo Imortal acaba por funcionar
muito bem como épico de aventuras, uma óptima sessão de sábado à tarde, mas sente-se
que a temática da imortalidade e da solidão que essa mesma imortalidade
acarreta poderia ter sido explorada de forma bastante mais profunda e incisiva.
Nesse sentido, a série a que deu origem (e em que todos ficámos viciados nas
tardes dos anos 90 da SIC) é a que melhor presta serviço à mitologia e à
essência da saga. Muito mais até do que as sequelas deste Duelo Imortal, qual
delas a pior.
Regressando à questão inicial, Highlander
é aquela saga – mais do que o filme em si - que clama por um remake bem
estruturado e mais profundo. Como filme em si, este início de saga não está
nada mau. Mas e que tal um Gore Verbinski pegar nisto?
Recomendado para: saudosos do bom cinema
de aventuras
Classificação Filmes Esquecidos: ***1/2
Classificação imdb: 7,0
Comentário chunga: Clancy Brown assusta
o próprio susto. Mas o filme merecia um vilão melhor.
EDIT: e afinal, já há notícias sobre o remake :) http://movieweb.com/highlander-movie-reboot-director-chad-stahelski/
EDIT: e afinal, já há notícias sobre o remake :) http://movieweb.com/highlander-movie-reboot-director-chad-stahelski/