Thursday, June 14, 2007

Natural City - Min Byeong-Cheon (2003)

Para mim este é um filme de FC especial.
Poderia muito bem chamar-se Blade Runner 2 pois o universo em que decorre a acção é practicamente o mesmo, não só a nível temático como no que toca ao ambiente visual, onde nem faltam os carros voadores e anuncios de neon por entre grandes prédios.

Apesar de ser obviamente muito inspirado no filme de Riddley Scott e quase um plágio na forma como trata o tema dos "replicants", na verdade o filme funciona mais como uma espécie de remake modernizado do que como a sequela directa que na realidade nunca tentou ser.
Por outro lado como já Blade Runner tinha ido buscar precisamente o seu estilo visual a muitas influências orientais, para mim Natural City quase que completa um ciclo e não me espantaria ver um destes dias este filme distribuído a sério no ocidente com um daqueles titulos estilo - Riddley Scott apresenta - Natural City.

Embora no que toca á habitual "sensibilidade" ocidental este seja um daqueles filmes que não conhece meio termo quando falamos de críticas do público.
Ou se gosta ou se detesta, pois este filme tem tudo para ser desvalorizado pelo típico espectador pipoqueiro americanizado. Tem um trailer que promete muita porrada e depois o filme tem apenas duas grandes sequências de acção, uma no inicio e outra no fim. O resto do filme é composto por aquelas coisas chatas em que "nunca se passa nada", nem mete tiros nem perseguições nem nada e apesar de conter alguns momentos esporádicos de acção, eles estão em partes do filme que á primeira vista não pareceriam sequer precisar delas para fazer avançar a história e por isso a um primeiro olhar até podem parecer irrelevantes.









Natural City tem ainda outra coisa que afasta logo o publico das pipocas, (tal como aconteceu com o Blade Runner quando estreou), ou seja, não tem herois.
Aliás, uma das grandes críticas que se fazem a Natural City é o facto de não ter qualquer personagem interessante, ou pior ainda, simpático.
Traduzindo , Natural City não tem um heroi á americana.
Tem um anti-heroi á primeira vista tão antipático (e estúpido), que qualquer pessoa que entre neste filme á espera do típico heroi definido pela habitual fórmula de Hollywood então vai ficar muito decepcionada com a maneira como o percurso do personagem é apresentado neste caso.

Muita gente afirma por isso, que a história de amor que é a base de tudo não resulta porque o público não tem qualquer empatia com os protagonistas.
Eu não posso discordar mais.
A love-story embora nada convencional (tal como em Blade Runner), é aquilo que dá alma ao final de Natural City e o torna num dos mais poéticos dentro da FC desde...bem, desde Blade Runner.
Alguns, criticam o facto da "replicant" pelo qual o heroi está apaixonado ser caracterizada de uma forma demasiado vazia. Mais uma vez não posso estar mais em desacordo.
O personagem tem 3 dias de vida e perdeu todas as faculdades "humanas" não passando apenas de uma boneca "insuflável" avançada. Um brinquedo tecnológico prestes a ser desligado por falta de bateria e apenas com uma leve memória daquilo que foi. Neste aspecto a actriz faz um trabalho fantástico e acreditamos mesmo que ela não passa mesmo de uma boneca prestes a ser desligada, tal é o "vazio" que transparece da sua caracterização.
E é isso que faz com que a trágica história de amor resulte num final que alterna entre o espectacular em termos de sequências de acção e o intimismo trágico de um amor impossível. Para mim este filme tem um dos melhores finais em termos de sentimento dentro da FC moderna, a fazer recordar um pouco a morte de Rutger Hauer no Blade Runner. Quem gostou da poesia desse momento no filme de Riddley Scott, vai gostar da forma como Natural City resolve a relação entre o policia sem rumo e a boneca com tempo de vida contado.









Uma nota para a banda sonora do filme, que apesar de não se fazer notar muito ao longo da história, tem um par de momentos realmente mágicos. Nomeadamente numa breve sequência subaquática a meio do filme (que irá agradar muito aos fãs de filmes como The Big Blue), mas principalmente nos minutos finais da história, acentuando musicalmente a forma poética como o filme termina.

Mas Natural City não é apenas uma história de amor. Ao contrário do Blade Runner, este filme divide-se entre o drama romântico de FC e um filme de acção técnológico.
Na verdade se Natural City tem uma fraqueza , ela está precisamente aqui. Não pelo facto de ter momentos de acção excelentes, mas porque a meio se perde um bocado, pois parece que o realizador está indeciso entre fazer um drama ou um filme de acção e isto resulta numa falha de equílibrio entre os géneros e isso torna-se evidente na própria montagem a partir da primeira metade da história.









Mas grande parte da culpa , está no facto deste filme (para mim) só ter um verdadeiro problema. O vilão não é o Rutger Hauer.
Enquanto que Blade Runner tinha um Roy Batty, Natural City tem um vilão que mais parece fazer parte de um videogame do que propriamente pertencer ao universo em que a história decorre.

O vilão de Natural City é demasiado unidimensional e a sua presença no filme mais parece uma justificação para se conseguir meter acção no filme do que outra coisa qualquer. A sua ligação á base romântica do argumento parece um bocado metida a martelo, precisamente porque o vilão parece estar num outro filme e portanto a sua colagem á parte dramática da história não funciona tão bem como seria desejável.
Por causa disso, as cenas de acção, só não são mais espectaculares porque no meio de tudo isto parece que apenas lá estão para contentar quem espera um filme mais hollywoodesco e como espectadores nunca temos uma ligação emocional entre essas cenas de acção e a parte mais humanizada do argumento por muito que o realizador se esforce.
Por outro lado também não prejudicam o resultado final e quem gostou do estilo de acção presente em filmes como o Pacto dos Lobos, vai adorar as sequências de combate em Natural City.

Por tudo isto, este é um filme para ser visto pelo menos duas vezes, pois tenho a certeza que quem nunca o viu, vai ter exactamente a mesma reacção que eu tive (e muita gente teve) ao vê-lo pela primeira vez.
Devido ao estarmos habituados ao estilo americano de contar histórias, há sempre o risco de quando vemos Natural City pela primeira vez, este nos possa parecer um filme demasiado vazio, especialmente porque inicialmente é dificil encontrarmos uma ligação com os persongens.
O anti-heroi é completamente antipático a um primeiro olhar, a heroina nem se mexe pois está quase sem bateria, o vilão parece que não pertence ao filme, o amigo do heroi ainda é mais antipático que o heroi, a rapariga humana do filme tem potencial mas parece que fica um bocado á parte em tudo, etc, etc, etc. Por isso não se espantem se o filme vos parecer um bocado estranho ao inicio.

Primeiro estranha-se , mas podem crer que depois entranha-se e a cada vez que o revemos encontramos novos pormenores que nos fazem valorizar mais Natural City. Um pouco como Blade Runner também.

Por tudo isto, recomenda-se vivamente a quem gostaria de ter um Blade Runner moderno. Natural City, apesar de ser um clone...se calhar não imita ninguém. E só vão perceber esta afirmação quando virem este filme pelo menos duas vezes.
Um filme que para mim leva 10 valores em 10 sem qualquer hesitação.

E notem, que quando o vi pela primeira vez, não lhe conseguia dar mais de 6 ou 7 e apenas pelo visual e pelo final, mas como já disse este é um daqueles que não pode ser apreciado devidamente numa desprevenida primeira visão. Vão por mim.
Vejam e revejam-no e vão descobrir um dos mais belos e poéticos filmes de FC dos ultimos anos. Tomara Hollywood deitar cá para fora filmes de FC como este. Um verdadeiro filme de culto que merece ser mesmo descoberto. Natural City.

Para uma review com mais imagens, espreitem aqui http://www.shuqi.org/asiancinema/reviews/naturalcity.shtml

Façam-me apenas um favor, evitem o trailer ocidental/americano se quiserem descobrirem o filme por vós próprios. O trailer americano, não só conta a história toda, como ainda explica com todos os detalhes o que acontece com cada personagem, não vá os espectadores das pipocas depois não conseguirem compreender o filme. O trailer americano é outro atestado de estupidez aos espectadores. Evitem-no a todo o custo, pois este filme merece ser descoberto sem ideias pré-concebidas.
Espreitem antes o trailer Coreano original AQUI, http://www.youtube.com/v/nJrrYQ-gt3o pois transmite não só o ambiente real do filme como também um pouco da sua poesia.

Caso estejam interessados em comprar o filme, sugiro a edição Coreana de dois discos que vem numa caixa de lata se ainda a conseguirem encontrar. Não faço ideia se as edições ocidentais contêm algum corte ou não, mas eu não arriscaria, pois o filme contém bastante sangue nas sequências de luta e não sei até que ponto é que não estará cortado, talvez em edições Uk...

De qualquer maneira, Natural City é um filme que não merece andar esquecido.

2 comments:

Luís A. said...

tem belíssimas imagens...lá isso tem...abraço

Anonymous said...

Olá....gostei muito do que acabei de ler...
Saberás quem eu sou?
Espero que sim...

Mort.Tua
Biejinho