São muitos os filmes que saem todos os anos, dos mais variados géneros e feitios e para os mais variados públicos. Mas quantos haverá que abordam, com graça e sensibilidade, realidades presentes no nosso quotidiano? O recente sucesso de A Gaiola Dourada (La Cage Dorée, 2013), do qual falarei em breve, mostrou que não é preciso ter muita ação, efeitos especiais e super-heróis para se conseguir cativar o grande público. Sim, é um cliché repetido até à exaustão. Mas quantos cineastas saberão contar uma história de forma sensível e ao mesmo tempo cativante?
Os Encantos do 6º Andar passou-me completamente ao lado quando da sua estreia. Sim, é um filme francês e o mercado português não costuma prestar-lhes atenção a não ser que o título seja antecedido por "Luc Besson presente", mas eu costumo estar atento. Sim, é um filme francês sobre mulheres espanholas emigradas na França dos anos 60 do século passado, mas, se por outro motivo não fosse, o esmagador sucesso da obra de Philippe Le Guay nas bilheteiras gaulesas devia ter-me alertado para este filme, nem que fosse só um bocadinho. Assim um bocadinho só.
Maria (Natalia Verbeke) é uma jovem espanhola em busca de trabalho na capital francesa. Como todas as espanholas da altura, acaba como empregada de limpeza na casa de um casal de posses. Só que a sua chegada, aliada à energia das suas compinchas dos outros apartamentos, altera a realidade do aborrecido Jean-Louis (Fabrice Luchini), um bom homem cuja vida está estagnada entre a previsível e um tanto arrogante esposa e a o emprego de sempre. O cruzamento da sua vida com a das senhora do 6º andar vai alterar completamente o seu rumo, de forma inesperada, mas invariavelmente tocante e divertida.
Convém aqui salientar que estamos perante uma realidade muito específica, mas de fácil compreensão pelos portugueses que têm ou tiveram familiares emigrados na segunda metade do século XX. Fala-se, inclusive, deles, a determinada altura do filme. O que torna ainda mais relevante este Os Encantos do 6º Andar, um pedacinho de cinema que revela uma universalidade e uma sinceridade desarmantes. E que, acima de tudo, merece ser descoberto.
Recomendado para: quem não tem medo de sorrir com a dura realidade.
Classificação Filmes Esquecidos: ****
Classificação imdb: 7,1
Comentário chunga: se não fosse por causa das coisas, até pensava que as donas do prédia eram as espanholas. mas isso sou eu...
Trailer
No comments:
Post a Comment